Na vitrine
Com o coração descompassado atravessou a rua correndo. Um motorista freou, buzinou irritado. Era ele do outro lado da rua, sabia. Vestia uma camisa xadrez por dentro da calça e cinto de couro. “Está diferente, mas é ele”. Temia que desaparecesse. Diante de uma vitrine, tocou levemente o seu braço. Ele virou-se, disse desconcertado:
- "Minha mulher está ai dentro, não posso falar com você". Virou-se e dirigiu-se à porta de entrada.
Olhar turvo perdido nas manequins, não via nada. Saiu, passos lentos, esbarrando nas pessoas.
Na esquina, no meio fio, alguém perguntou se precisava de ajuda.
- “Não obrigada”. Não queria nada.
Tempo interminável até a penumbra da sala.
Adivinha uma jovem ao seu lado que o obriga a se cuidar. Ela não saberia dizer: "Não beba mais por hoje". Bebiam juntos, se amavam embriagados, jurando amor eterno.
Deixou-se estar no sofá até que o cão viesse, esfomeado, pedir comida. Ela não precisaria comer estes dias, sabia.
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