quarta-feira, abril 27, 2011

Saudades do Wagner- "Dzi Croquettes"




Vi o documentário sobre os Dzi Croquettes.
Foi emoção pura. Eu conheci o Wagner Ribeiro, já contei aqui antes, Carlinhos, aquele amigo querido de quem falo sempre, nos apresentou em 70, quando cheguei ao Rio. Era um homem de olhos melancólicos, interessantíssimo, divertido. Eu ria muito com as imitações que ele fazia. Enquanto cortava couro, inventava estorinhas engraçadíssimas. Era um artesão muito conhecido- in- em 1970/71, fazia roupas para Bia Vasconcelos e outros. Ela vivia em Paris, era super famosa, elegantíssima- eu a vi uma vez por lá.

Eu estava chegando à cidade do Rio, vinha de Cabo Frio, e vivia no atelier dele na rua Prudente de Moraes ao lado do Teatro Ipanema. Lá havia músicos, artistas, como o Torquato Neto e outros, que não lembro mais. Este eu gravei porque ele já era conhecido e me entristecia muito vê-lo caído, drogado. Muito triste, era difícil ver.

Wagner andava com uma trupe, claro. Zé, que chamávamos Zé do Wagner, mas eram amigos, não amantes, outros como Flamarion, que fazia artes plásticas- houve uma vernissage uma vez- louquíssima-Flamarion levou a peça dele para o mar- era algo como um beliche que flutuava, ficou algum tempo no mar de Ipanema, depois desmanchou- acho que era de corda- sisal. Era o tempo das obras de vanguarda de Hélio Oiticica, vocês sabem, sacos com areia espalhados pelo pátio do atelier...

Havia o Marc Berkowitz –fotógrafo e crítico de arte famoso, estava sempre por lá, era amigo do Wagner. http://www.gordilho.com/ef000.htm

Em 71, a faculdade exigia mais e eu comecei a namorar o A., o lugar onde havia o atelier foi vendido e Wagner foi para Santa Teresa. Passei a vê-lo na Feira Hippie todos os domingos. A feira começava, ainda expunham no chão, depois vieram as armações de ferro, a confusão.

Uma vez fui visitá-lo em Sta Teresa. Elke Maravilha estava numa das salas, era uma mulher bonita- eu a achava interessantíssima pela ousadia no cabelo- meu cabelo também era grande e armado- menos que o dela- quem viveu aquela época sabe do que eu falo.
Ela se vestia de forma criativa e exuberante. Sabia se exibir desta forma- eu a via na rua algumas vezes, sempre muito colorida, uma festa.

Depois eu soube que faziam o Dzi e que foram para Paris. De vez em quando víamos o Zé. Não soube mais do Wagner até me contarem que foi assassinado.
O Wagner dançarino eu não conheci. Lamento não ter me mandado para o centro do Rio, enfrentado multidão para vê-lo. Eu sempre fui comodista, quieta.
O grupo dançando é impressionante. Quem conheceu o Wagner, antes, não o imagina dançando- era magrelo, sem jeito, já o conheci calvo. Fico pensando o quanto eles se jogaram naquele projeto.

Foi um sucesso- foi lindo. O documentário é o melhor que eu vi até hoje, pode ser que seja pela emoção- eu quase chorei o tempo todo- por tudo. Eles eram verdadeiros, eram homens com sensualidade plena, amantes do prazer, do trabalho, da vida.

Muitos morreram de AIDS- a desgraçada- Wagner morreu assassinado- outros dois também. Putz! Ele estava morando num sítio e levou um tiro nas costas quando fugia do bandido—o namorado dele se salvou- talvez ele tenha corrido para que o outro se salvasse, melhor pensar assim.

Flamarion, que citei ai, também foi para Paris, tocava percussão com Hermeto Pascoal, lá casou com Sylvie. Um dia o encontrei na rua em Ipanema, me convidou para a casa dele- conheci Sylvie e ficamos amigas- foi ela que me recebeu em Paris em 2008, hoje ela é casada com um africano gente finíssima- tenho muito carinho por ela. Fla era irmão de uma cômica que fazia a Escolinha do prof. Raimundo, Nadia Maria, ela faleceu  em 2000, ele mora agora na casa que foi dela na lagoa Rodrigo de Freitas, por ali- rua Alberto de Campos, acho.


É... a vida dá umas voltas. Viver é isso.

Mais aqui.

8 comentários:

banzai disse...

não conhecia o Dzi, e achei sensacional. O Lennie Dale, o Tovar também fazia parte do Dzi me parece. Vi e continua atual, moderno, super vanguarda. Achei maravilhoso o documentário resgatar a história do grupo. Gostaria de ver. Beijos
madoka

Laura_Diz disse...

Madoka, o que quer dizer banzai?
é bonita a palavra...
qrda, o Tovar aparece bastante no documentário- até pq é um dos poucos q estão vivos, infelizmente.
Lennie foi quem os preparou- genial. No youtube tem trecho gde do Lennie- talvez ache o vídeo todo.
Éu fiquei hipnotizada e comovida. Bjs Laura

Anônimo disse...

Laura,
vi alguns vídeos do Dzi, são incríveis mesmo. Me parece que são 13 no grupo, mas no palco dá a impressão de serem bem mais que isso. Outro dia também vi o documentário muito bom do cantor Wilson Simonal, vale a pena ver.
Ah! banzai quer dizer: viva, aplauso, grito, por aí.
beijinhos
madoka

Unknown disse...

Trabalhei para o Wagner,por duas vezes em sua fábrica,em 1986/87 e 1991/92,e ele era uma ótima pessoa,muito preocupado com a consciência politica do povo e sempre querendo ajudar de alguma forma as pessoas que trabalhavam com ele.Fiquei muito triste com a sua morte,ainda mais porque,na época eu pintava,e firmamos um acordo de que ele iria financiar o meu trabalho assim que pudesse. Foi um baque tão grande que desisti da arte.

Laura_Diz disse...

Geraldo, nao desista da arte a arte nos salva.
Abraços.

Roger Camacho Barrero Junior disse...

Em que ano faleceu o Wagner Ribeiro e quantos anos ele tinha?

Roger Camacho Barrero Junior disse...

Boa Noite. Em que ano o Wagner Ribeiro faleceu?

Capello disse...

Conheci um francês em Canoa Quebrada que, havia uma história, de que era o namorado que estava com o Wagner no dia do assalto/assassinato. Não quero citar seu nome mas gostaria que me informasse, para sanar qualquer dúvida, o nome do que estava lá.