terça-feira, fevereiro 16, 2010

Uma sessão de análise no Carnaval



Ontem sonhei que Chico Buarque me oferecia a mão para eu levantar- eu estava sentada numa cadeira. Havia bastante gente- talvez fosse uma festa.

Hoje eu estava na frente da casa, aqui no meu condomínio, e ele passava com um cachorrinho. Espero que volte. Digo: Sonhei com você, lembra que uma vez o abordei na rua Nunes Machado e disse que havia sonhado com você? Sempre sonho- algo assim. Ele faz um meneio confirmando que lembrava.
Em seguida estou no quarto dele, sentada numa cama enorme, cheia de coisas. Vi algumas fotos de uma menina linda. Digo que é muito linda e pergunto quem é. Responde que é filha de Olivia e Francis Hime. Numa das fotos a menina está no colo da mãe. Observo Olivia e digo que não a reconheço, deve ter feito plástica, está com olhar diferente. Ele concorda. Para que mudar o rosto? Dizemos juntos.
Ele separa cartas de um baralho. Era um jogo para mim. Nunca vi algo assim. Havia um folheto que acompanhava. Ele me explica. Era algo como sua cor de sorte, seu número... Perguntava que doce gostaria de comer naquele dia. Eu respondo algo com chantilly de verdade.
Neste momento falo ao telefone com Ana Maria que me diz que encontrarei um doce muito bom aqui. Digo que nunca fui neste lugar.
Ela pergunta por Dan, respondo que está ótimo, tirou carteira de motorista, faz as compras da casa agora. O telefone fica péssimo, não a ouço. Digo: você não vai acreditar, agora sou vizinha de Chico e ele e meu amigo.
Não ouço a resposta dela. Desligo.
Ele me diz que esteve doente e só come pão- acho que era brioche- e foie gràs, eu levo um tempo no sonho para lembrar o que é foie gràs.
Ele sai. Agora estou na minha casa com as cartas dele- penso que se ele chegar ainda não tomei banho, mas se for tomar, não ouvirei a campainha.
Dan está com outros dois meninos numa mesa, ainda são crianças- derramam algo- fico zangada- digo que poderiam molhar as cartas do Chico.
Minha irmã telefona dizendo que adiou a viagem com minha mãe- que pagou uma taxa e irão uma hora mais tarde- fala algo sobre trânsito intenso.
Penso que ela tem facilidade em pagar coisas desnecessárias.

Acordei com esta musiquinha no meu radinho subjetivo:
“Eu faço samba e amor até mais tarde...
E tenho muito sono de manhã,
Escuto a correria da cidade,que alarde...”
Pô, que ironia.

Sobre o sonho:

O meu inconsciente é camarada, me dá estes sonhos deliciosos com Chico. Há muitos anos sonho com ele, muitos...

A analista outro dia disse: Chico é um significante.
De acordo.

Eu penso que Chico é um ícone, um mito da minha geração- a analista é mais jovem e é daqui do nordeste. Chico Buarque não tem o mesmo peso que no sudeste- há pessoas que não o conhecem, muitas. Todas sonhamos com Chico lá no Rio.

No sonho apareceu um dado novo: Rua Nunes Machado.
Ulalá! Foi a rua da minha infância em Curitiba. Morávamos numa casa geminada com a da minha avó paterna. Velha fria aquela, seca como um galho. Era portuguesa, usava saia até o pé, cinza, tudo preto ou cinza. Era triste, melancólica, chorava todos os dias na hora da “Ave Maria”.

Allgo novo com o aparecimento da rua no sonho. Lembro daquele lugar. Na casa em frente morava um jovem pianista- era mais velho que eu alguns anos. Tinha um grupo de rock- que era a moda na época. Mas eu o ouvia tocar clássicos. Eu me apaixonei. Não sei se pelo piano ou por ele. Passava o tempo livre olhando o portão para ver se ele surgia. Fui uma menina triste, já contei. Passava muito tempo na janela quieta, observando.

Anos depois eu contei a ele que havia sido enamorada por ele. Perguntou por que não contei antes. Imaginem?! Eu me sentia péssima, auto- estima no pé.

Juarez Machado eu conheci na rua. Ele morava em Curitiba e cruzava a mesma praça que eu : Praça Rui Barbosa. Eu saindo do colégio onde acabava o primário- era o nome do ensino fundamental- ele vinha da Escola de Belas Artes e morava ali perto numa pensão. Uma amiga minha era apaixonada pelo personagem que ele fazia na TV com Ari Fontoura-
um play boy, filho de um deputado nojento- tipo aquele que Chico Anísio fazia. Pois é, Juarez atuou como ator. Era muito bonitinho com cabelão loiro olhos azuis. Eu o abordei e disse que gostaríamos de conhecer o trabalho dele. Fomos- umas cinco meninas. A amiga desapaixonou-se e eu me encantei.

Íamos visitá-lo na TV Iguaçu. Enquanto ele pintava cenários enormes, conversávamos. Eu tinha papo, já gostava de ler e era atualizada- sempre gostei de ser.

Anos depois confessei meu amor platônico por ele. Disse: Por que não me contou antes? Eu te namoraria. Tentamos uma vez, não rolou. Eu estava apaixonada pelo namorado.
Hoje nos queremos muito, eu sei, mas nos estranhamos- ele fica tenso comigo, eu idem.

Os dois eram conhecidos. Juarez muito. Segui a linha do 'sujeito famoso': Chico Buarque. É interessante porque nunca fantasiei estar com ele- acho que é demais. Só em sonho noturno, mesmo. Já encontrei naquele dia com o Raduan, não disse nada ao R. - foi um dia especial- eu amo os dois- de longe.

Chico B. tem um apartamento em Paris- Marais. Passei perto, não sabia onde era, soube depois- perto daquela sorveteria famosa.
No meu sonho ele come comidas francesas. Por que?

Outro dia a analista perguntou: Por que Paris?
Acredito que a minha geração sonhou com Paris- aqueles filmes românticos com cenas maravilhosas pelas ruas parisienses. Belmondo, Jean-Louis Trintignant, Alain Delon, Ives Montand...

As moças ricas da geração de minha mãe tinham governantas francesas, todas falavam francês- a cultura da época era importada da França. Estudei em colégio de freiras de uma congregação francesa, estudei francês- o chic era o Colégio Sion, o meu foi o Colégio São José- mais acessível à classe média.

O grande amor impossível da minha vida, um dos homens mais bonitos e charmosos que conheci- talvez o mais charmoso- Jean Guillaume, era parisiense. Foi o homem que mais me influenciou na vida- eu o conheci quando tinha uns 16 anos, ele era da idade de meu pai. Maravilhoso. Estes dias tomei pastis e lembrei dele- era o que me serviam lá. Delicia- eu trouxe na viagem. Ai que saudades do Jean. Um homem inesquecível. Quem sabe por isso meus amores são impossíveis, quase sempre?

E o príncipe? Será que voltou de viagem? Avisou que estaria viajando- é o homem mais querido que conheço atualmente. Mais um impossível- nem sonhar dá hihihi meu filho avisou: Mãe, este nem vá fantasiar que você não tem chance- o C até tinha... hihihi Certo! :)

Mas há outro o Chico na minha vida- eu vejo por ai o significante- lembro de um Chico, sonho com o outro.

Francis Hime é uma graça, sempre foi. Está com setenta anos e lindo. O meu Chico, era lindo também, tinha um rosto bonito, perfeito no meu ponto de vista. Charmoso, inteligente, querido- tudo. Foi o sonho da minha vida este Chico. Morreu em 2008. De lá para cá... o sonho acabou.

Vou tomar um pastis e brindar pelos meus amores que se foram. Ainda tem o Carlinhos- também importantíssimo na minha formação- a foto está aqui na minha frente. Este teria sido o marido ideal, não fosse homo- c'est la vie.



Foto minha- lugar delicioso- Canal de San Martin- Paris

3 comentários:

angela disse...

E lá por traz de tanto sonho, de amores impossíveis, por isso mesmo inesqueciveis, tem uma tristeza, uma nostalgia do que foi perdido e principalmente do ue não foi vivido.
Adoraria sonhar sempre com o Chico..rs, só se devanear...
Com chance ou sem chance, não permita que um dia escute de novo...se tivesse me dito na época...vá a luta.
Me intrometi bonito, desculpe mas vou enviar assim mesmo
beijos

Lia Noronha disse...

Laura: confundi um pouco o real com o sonho...mas acho que o Chico...sempre vale a pena!!!
Bjus carinhosos pr ati da amiga de sempre.

Luiz Vita disse...

Laura,

Você é uma máquina de sonhar. E quantos detalhes!! Cenas do passado misturadas com as do presente. Será que pelo fato de vc ser psicanalista, seus sonhos são mais elaborados?

Sonhomuito com minha mãe, que já morreu. E ela está sempre jovem bonita. E no sonho eu sempre sei que ela está morta, mas quero aproveitar cada minuto ao lado dela, recuperando o tempo perdido...
Beijos
luiz