quinta-feira, novembro 12, 2009

Mini conto: Zampanô- Revisto






Zampanô


Abre a porta. Está escuro.
- Zampanô, Zampanô...
Acende a luz, o cão sai correndo, desliza pelo assoalho.
- Zampanô, que dia hoje. Ufa!... Precisava ver. O ônibus cheio, abafado, o trânsito engarrafado. Gente com cada cheiro, Zampa...
O cachorro pula- desta vez em suas pernas.
- Calma, calma, senão vai desfiar minha meia.
Tira primeiro os sapatos, depois as meias e a saia, por fim, a blusa de frio. Continua com a camiseta de algodão e a calcinha.
Vamos lá, vou te dar comida.
Liga a TV, passa uma novela, detesta aquela baboseira, mas vê. Diverte-se fazendo críticas azedas:
- Zampa, esta mulher é insuportável, se você visse concordaria comigo.
Requenta a comida. Deita-se no sofá- só sairá dali quando estiver quase dormindo. A louça fica para amanhã, o banho fica para amanhã, a roupa jogada juntará amanhã.
- Zampa, hoje não vamos passear, estou tão cansada...
A cão abana o rabo, enquanto as mãos magras alisam seu corpo.


Nota 1: Ivan Lessa leu este conto no meu blog do Portal Luis Nassif. Disse que lembrava Clarice e,como não me conhece bem, frisou que era um elogio, caso eu não soubesse. Também num outro conto comentou que se eu enxugasse mais 'encostaria' em
Dalton Trevisan- fiquei muito feliz com os comentários dele- depois como ele saiu do Portal tudo sumiu. Deletou a página dele e desapareceram os comentários. E a desligada aqui não copiou. Não o reencontrei por aqui. Uma pena. Não insisti- respeito os famosos :) ou não famosos, viu?
Vou contar uma historinha do Ivan amanhã.

Nota 2: Zampanô é personagem de Fellini de "La strada". Veja aqui, se quiser, Antony Quinn fazia Zampanô e contracenava com Giuletta Masina no papel de Gelsomina, um dos personagens mais comoventes do cinema,. Se ainda não viu veja.

2 comentários:

Anônimo disse...

singelo conto. Gostei.
E Antony Quinn, que ator inesquecível. não se fazem mais ator como antigamente, fala sério? E este com a Giulietta Masina, eu não vi e já querendo ver.
E vc tá boa?
bjs
madoka

Henrique disse...

Um conto e duas notas. Todos de igual valor. Muito bons!