Escritos de 1980

Há dias estou arrumando papéis, não acaba nunca... Encontro cartas, fotos, escritos, desenhos... alguns mofados.
Me dou conta de que sempre escrevi mais do que eu pensava- eu sabia, pero... sei lá, eu não valorizava. Guardo e penso o que será disto quando eu morrer? Irá para o lixo. Uma nora fará a limpeza e queimará tudo. Penso isto.
Ontem achei isto:

Tenho uma sensação estranha, falta um elo, algo que me ligue à realidade. Como se chegasse de uma longa viagem e ainda não tivesse conseguido estar completamente aqui. Há um espaço indefinido, um tempo indefinido, que não reconheço. Existem muitas imagens, frases, cheiros, que encontro em mim, mas não no espaço real. Estão em outro nível, num outro espaço. Lembranças que me fazem nostálgica. Lembranças que irão aos poucos se transfigurando e desaparecendo. Um espaço que deixará de ser algo estranho, para simplesmente deixar de existir.

30-06-80