sábado, novembro 01, 2008

Um amor sem face





Um amor sem face


Esta semana ela não o encontrou na internet. É a primeira vez que ele desaparece. Ela fica horas em frente à tela aguardando, e nada.
Há anos se correspondem. Logo notou que ele sabia escrever, gostava das palavras que ele usava. Acabaram amigos virtuais, amantes clandestinos.
Pouco sabe dele, apenas que vive com dois filhos numa casa. Nunca falou da mulher, nem ela perguntou. Uma vez disse:
- Irei à São Paulo estes dias, poderíamos nos ver, pode ser na Livraria Cultura, sei que você está sempre lá.
Ela respondeu em voz baixa:
- Quem sabe... me ligue quando chegar.
Nunca se viram, nem em foto. Falam ao telefone. Só ele liga. Algumas vezes teclam uns minutos e ele diz:
- Preciso te ouvir hoje.
Fica mais enamorada quando ouve a voz máscula dele. Guarda este segredo há anos. Canta sozinha pela casa, sem dividir a alegria.
Sente calafrios só de pensar no encontro, o estômago trava.
Ele não a chamou quando esteve na capital. Não conseguiu tempo, disse. Ela não questionou. Talvez fiquem assim, se amando de longe - num amor sem face.
Todos as semanas ela se arruma como se fosse encontrá-lo. Não sai de casa, apenas mantém-se em frente do computador e pensa: "Quem sabe ele não virá neste fim de semana?”
Espera que ele adivinhe o seu desejo.

PS: Meu caro amigo, se quiser votar, entre aqui no site da Livraria Cultura. À medida que entram novos contos lá, vai mudando a página :)

Nenhum comentário: