Michal Zaborowski
O telefonema
O telefone soa e quebra o silêncio de dias.
Choveu sem parar, chuva fina com vento frio. Nem jornal foi comprar, ficou só com a TV e o cachorro. Quanto mais fica só, mais quer ficar.
"Quem seria no telefone?" pensou. Quase não atendeu.
- João, é João. Não me reconhece mais?
Levou uns segundos para identificar a voz e o nome.
Recebeu sua carta contando da mãe, quis saber como aconteceu. Ela não se comoveu como sempre.
- Sabe que gosto de você...
- Mas casou com outras, não comigo.
- Você não me quis...
Mentira, ela pensou:
- Você estava envolvido com outra mulher.
- Nem me lembre, vivi um inferno.
(...)
- Você está casado?
- Estou.
- Com aquela com quem te vi na última vez?
- Não.
Quando desligou ficou parada no sofá uns minutos. Ele esteve na cidade e não veio vê-la.
- Não deu tempo, foi só um dia, eu dependia de outros, ele repetiu, duas vezes.
Mentira, se desejasse, viria.
Talvez minta para si.
Desta vez não chorou.
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