terça-feira, junho 10, 2008

Viver em Ipa é como viver em NY?




A Revista Época estampa na capa as quatro e diz aqui:

"Carrie, Charlotte, Miranda e Samantha viraram ícones num momento em que as mulheres buscavam novas referências, passada a época da dedicação à família e a revolução dos sutiãs queimados. Nem tanto o fogão, nem tanto a selva do mercado. Daí a paixão sem fim por personagens que, ao mesmo tempo, pagam as próprias contas, correm atrás do amor e não sentem culpa por gastar uma fortuna num par de sapatos. “Essa é uma geração de mulheres que querem viver suas próprias fantasias. Solteiras, namorando ou casadas, querem ser donas de suas próprias vidas. Querem amar os homens que escolherem e comprar as roupas que quiserem”, afirma a sexóloga Pepper Schwarz, da Universidade de Washington, em Seattle."


O meu seriado favorito é "Seinfeld" já contei aqui. "Sex in the city" eu via ao acaso, nunca sabia o dia, mas gostava assim assim.
Estão fazendo um alarde dizendo que são ícones de uma geração de mulheres modernas, etc e tal.
Gente, eu tinha 20 anos nos anos 70, sou anterior a estas personagens, vivi em Ipanema e éramos muito modernas. Óbvio, que nem todas. Algumas saíram da faculdade e casaram, viveram sustentadas pelos maridos, mas estas eu não lembro, não são minhas amigas íntimas.
Ali podíamos viver sós, sair com quem quiséssemos. Não havia ninguém para dizer o que era certo ou errado. Fazíamos o que a nossa cabeça mandava. Minha amigas concordariam comigo agora. Todas trabalhávamos, éramos livres, solteiras e lépidas. Tomávamos sol o ano todo, fazíamos ginástica em academias, vivíamos saudáveis, sem drogas nem rock and roll.
Poderia dizer que fomos um grupo semelhante ao da série. Quando nos reuníamos falávamos muito em homens, sexo, mas éramos cultas também. Víamos todos os filmes que saiam, víamos todas as exposições, todas as peças de teatro que interessavam- em 80 havia muita porcaria. Algumas viajavam muito para a Europa e EEUU, outras, como eu, estudava sem parar psicanálise e deitava em divãs. Uma delas era absolutamente fútil, era agregada ao grupo- amiga da amiga- queria casar a todo custo. Demorou, mas casou.
Aos 40 anos todas nos "casamos"- nossos mapas astrais devem ter algo em comum :)
Nenhuma casou no papel. Tivemos filhos, exceto uma delas que tentou várias vezes e não conseguiu reter bebês. É uma grande executiva hoje.
Somos hoje menos felizes? Não sei. Cada uma fez um caminho diverso. Uma delas, que viajou o mundo todo com grupos, hoje é também advogada, além de psicóloga e guia de turismo internacional- continua viajando; a outra vive na maior capital do país, mas passa os fins de semana no Rio com o 'marido', viaja toda ano para a Europa; a outra está separada do marido, que tanto quis, mas tem um filho que ama muito; eu lamento o amor perdido, sinto falta de amigos, mas tenho dois filhos maravilhosos, que me fazem desejar ser mais feliz e saudável. Recomeço minha vida profissional aqui, escrevo contos, tenho planos, desejos.
Portanto, não somos as únicas, existem milhares de mulheres no Rio ou em outras grandes cidades, que fizeram e fazem o que querem sem preconceitos. Fomos livres para escolher. Se fizemos a melhor escolha, não sei. Nunca se sabe.
E, como disse, o Vittorio Gassmann, a vida deveria ser como o teatro, primeiro se ensaia, depois se vive pra valer. Mas não é.
Ah! Será que as moças de NY são mais caretas que as ipanemenses? Pode ser... Tivemos Leila Diniz.


Atualizado em 11/06:
Meu amigo César, que viveu em Ipa na mesma época que eu- teve sorte, chegou antes ainda de 70- mandou este email:

Belo texto, minha querida Laura. É isso aí. Daquela Ipanema nossa nesceu uma revolução de hábitos, costunes e maneira de viver livremente. Se vamos ficar como exemplo, eu não sei. Talvez apenas como história de um tempo feliz. Beijos do César.


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