terça-feira, junho 24, 2008

"Uns passarão, eu passarinho"





A vida é estranha. Eu estava chorando a morte do amigo, que fez um mês agora, e meu filho adoeceu com gravidade. Mais uma dor. Tudo muda, há um corte. A realidade passa a ser aquela ali, mais nada importa. Preciso pagar contas e não tenho a mínima vontade de sair. Tenho clientes no final do dia. Hoje, terça, está parecendo véspera de fim de semana. Deve ser o desejo de ficar em casa. Estou cansada, dormi mal estes dias naqueles sofás de hospitais. Esta noite acordei de madrugada para lhe dar água de coco. Ele está muito melhor.

O carinho dos amigos me comove, tantos me escreveram. Alguns que há meses não apareciam. Uma pessoa me mandou um e-mail que me levou às lágrimas, chorei um tempão. É uma médica que conheci há alguns anos naquele SPA onde eu fazia palestras. Trocamos alguns e-mails, eu lhe mandava meus posts, ai um dia deixei de lhe enviar, ela não retornava. Ontem ela me disse coisas que me tocaram profundamente. Uma delas: "que foi(é) um dos bons encontros de minha vida", além de dizer que lê e ama tudo que escrevo e me acompanha de longe, agora com mais proximidade por ter sentido a minha dor pela perda do amigo. Ela é uma pessoa muito diferente de mim, muito fechada. Não consegui responder ainda, vou chorar.
O que me entristece é que eu tenho vivido um isolamento muitooooooooo doloroso de alguns irmãos- os que eram mais próximos, íntimos. Por ironia, o menos próximo é o que me entende melhor hoje, é o único que se mostra tocado pelo que eu sinto, e minha mãe, felizmente... Eu pressentia algo, demorei anosssssssss para me desfazer do apartamento de Ipanema. Foi inimaginável. Nunca pensei que um dia passaria por isto. Enfim, como meu querido amigo, que acabou de morrer disse, eu devo pensar nos meus filhos, na casa que está sendo construída, deixar de pensar nos irmãos. Foi nossa ultima conversa. Ai ai nunca mais poderei ligar e ouvir aquela voz linda do outro lado- tinha a voz mais bonita que eu conheço. A secretária eletrônica do escritório lá ainda estava coma voz dele dias depois de sua morte- não tenho coragem de ligar mais, seria masoquismo.
E hoje uma outra pessoa querida me escreveu, depois de anos nos encontraremos, ainda este ano.

Pois é...a vida segue.
E como disse o poeta lá do sul, terra onde nasci, o Mario Quintana:
"Uns passarão, eu passarinho".

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