sábado, junho 28, 2008

A mulher do aeroporto


Domenique Blanc



Ontem eu vi um filme muito interessante no Eurochannel- hoje, no fim da manhã, repetiam, como repetem!.
Hélène é abandonada pelo marido no Aeroporto de Orly na hora do embarque- ele mudava-se para Buenos Aires- e fica vagando por ali desesperada, perdida.
Sem dinheiro, acaba se prostituindo e "gostando". Vive no aeroporto, banha-se ali, seca o cabelo, perfuma-se, e seduz homens de negócio. A grana a faz vestir- se melhor. Não a vemos fazendo compras, mas a transformação é evidente no cabelo, nos trajes. Passa a dormir num hotel. Parece sentir certo alívio depois do sofrimento maior.
O filme faz a gente pensar. Ela não era jovem, nem tinha atributos que a fizessem desejável facilmente, mas leva os homens para a cama, sabe seduzí-los.
Mostram o homem maduro que fala com a esposa- ma cheri- a engana dizendo que ainda está não sei onde, e Hèlène, a sua frente, o olha com naturalidade, aguardando. Enfim, é como se os homens não pudessem dizer não à Hélène. Parece comportamento comum aos homens, ouço isto por ai na vida. "Como negar fogo? Vão pensar que não sou macho".
Triste isto.
Vocês sabem que eu não sou pudica nem moralista, acho válido sexo por sexo- why not? mas os intercursos (gostaram desta palavra? eu gosto hohoho) mostrados ali são absolutamente gratuitos. Aliás, nada baratos, ela cobrava bem, ao que parece.
O filme é intrigante por isso, as cenas de sexo não são excitantes, são tediosas, ela distante, eles um pouco irritados pela falta de entusiasmo dela. Afinal, ela vivia uma perda, estava sofrendo muito, abandonada, desamparada.
Acredito que o sexo, nestes momentos de desamparo total, resgata de alguma forma a vida perdida no abandono. Há uma troca com o outro, seja lá quem for. É de alguma forma reconfortante.

Ela faz um amigo ali numa lanchonete, é um jovem de outra nacionalidade, também infeliz em Paris, cansado dos passageiros, sonha em ir para o México. (ou seria outro lugar?). Ele a quer bem, tenta fazê-la refletir sobre aquela vida, tenta tirá-la dali. É um filme bom e desconcertante. Incomoda. Tem cenas de violência que me incomodam, sempre. Eu o recomendo a quem gosta de filmes franceses. É filmado na íntegra no Aeroporto de Orly. Nada a ver com aquele filme com o Tom Hanks que tem outro enfoque.
A atriz tem um ar de Giulietta Masina no olhar, aquele olhar triste e aberto, um tanto vago e a mesmo tempo absolutamente cativante- ele, o diretor, acertou na escolha do elenco.


Domenique Blanc

Giulietta Masina

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