domingo, dezembro 16, 2007
"O que eu sinto falta hoje em dia é de classe"
Jack Nicholson
Este cara é um dos atores que mais gosto. Sempre gosto de vê-lo na tela, na telinha, em fotos- tem um rosto muito especial.
Nesta entrevista ele respondeu com grosseria um repórter, mas, faz favor, leiam a pergunta do carinha e digam se ele não mereceu a tal resposta do Jack. Jovens não respeitam os mais velhos, é coisa rara- todos acima dos 48 anos, por aí. Somos entulhos, não servimos mais para nada. Se esquecem que um dia chegarão lá, se tiverem sorte, podem ficar pelo caminho.
O carinha desrespeitou também a Morgan Freeman, que é um ator de primeiríssima, excelente.
Hoje eu vi num blog de uma jornalista, não vou colocar link-óbvio-, uma carta aberta ao Presidente da Republica onde ela diz: "Vá se f..., Lula", com todas as letras, o palavrão por extenso. Eu não gosto do Lula, mas acho isto de uma falta de classe... é isto que o Jack diz aí em baixo, falta classe atualmente- antes havia uma hipocrisia maior, eu sei, mas este tipo de linguagem num blog de uma jornalista, faz favor. Ah! é um espaço com vários colaboradores, nem é um diário íntimo, não. Coisa feia. Eu abri e fechei a tal página- recebi de uma amiga por email a tal carta com o link. Feio.
Na Folha hoje:
"O que eu sinto falta hoje em dia é de classe", diz ator
Aos 70 anos, Jack Nicholson interpreta um paciente terminal de câncer e afirma ser difícil achar em roteiros um componente sexual para personagens mais velhos
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
O clima no corredor do hotel onde, no último domingo, uma dúzia de repórteres esperava sua vez para entrevistar Jack Nicholson era de apreensão, para não dizer terror.
Não apenas porque, sentado no quarto, fumando cigarros em cadeia e beliscando pedaços de melancia, estaria um dos maiores atores da história do cinema, mas principalmente porque, no dia anterior, durante uma entrevista coletiva, Nicholson havia arrasado um jornalista por causa de uma pergunta de que não gostou.
"O que resta para interpretar depois de fazerem dois velhos moribundos?" foi a questão de um jovem repórter à dupla Nicholson e Morgan Freeman, que estava ali para falar de seus papéis em "Antes de Partir", com estréia prevista no Brasil para 15 de fevereiro.
A cara de desgosto de Nicholson, afundado na cadeira e escondido atrás de seus óculos escuros, foi instantânea e provocou risadas da platéia. "Um serial killer que mata as pessoas por causa de perguntas idiotas", respondeu o ator.
À grosseria acrescentou um "ho, ho, ho" sinistro e completou dizendo que não era de "afagar a imprensa estrangeira para ganhar elogios". "Tira essa merda de boné", prosseguiu, agora já convicto em sua atuação. "Está com medo?", finalizou, instalando um clima de "meu Deus, baixou o "Iluminado'" na sala.
Depois desse começo, seria difícil a coisa ficar pior (e, realmente, não ficou; Nicholson estava mau humorado, mas até se desculparia, no meio de outra pergunta, pelo ataque inicial). De qualquer modo, estava criada a expectativa para entrevistas tensas no dia seguinte, como a que a Folha faria com ele.
As esperanças de não ser atacado à base de sapatadas (como o personagem de Leonardo DiCaprio em "Os Infiltrados") residiam em uma frase da estrela: "Com meus óculos de sol, sou Jack Nicholson. Sem eles, sou um gordo de 70 anos". Para alívio do repórter, o homem que recebeu a Folha -além de uma jornalista argentina- estava sem óculos.
Era o gordo de 70 anos (completados em 22 de abril), com seu característico sorriso do gato de Alice. Estava cansado ("Não ajudou ficar acordado até as 5h assistindo a uma luta de boxe", justifica-se), mas bem humorado e bem falante -consumiu os 20 minutos da conversa respondendo a apenas seis perguntas.
Na conversa, cujos principais trechos estão abaixo, deu alfinetadas no novo Coringa, falou sobre suas ligações com a nouvelle vague, sua amizade com o diretor Hector Babenco e seu projeto de adaptar Philip Roth.
NOVO CORINGA
Adoraria fazer o Coringa de novo [em "The Dark Knight", que estréia em 2008], mas não fiquei furioso por não ter sido convidado [como havia dito à MTV]. Só digo essas coisas quando estou fingindo ser uma diva. Não temo ninguém que interprete um papel após eu tê-lo feito.
VIAGEM AO RIO
Já estive no Rio, mas, como o pessoal de lá diz, todos os visitantes falam sobre o quanto amam a cidade, mas não voltam uma segunda vez [ri, com a jornalista argentina]. Mas é claro que eu adoraria voltar ao Rio, foi uma viagem fantástica. E sempre quis ir a Buenos Aires também, nas fotos você vê quão chique era nos anos 30 e 40. Ainda não fui lá, está na minha "lista de coisas para fazer antes de morrer" ["bucket list", título original de "Antes de Partir"].
MEU AMIGO BABENCO
Hector é fabuloso, quando me perguntam sobre os filmes de que gosto e que acho que não foram devidamente reconhecidos, "Ironweed" é sempre o primeiro que cito, ele fez um grande filme. Hector é uma dessas pessoas que podem ser muito divertidas e extremamente sérias, adoro isso nele. Sei muito mais sobre ele do que sobre outras pessoas com quem trabalhei e que moram em outros lugares. É um amigo querido. Se o entrevistarem, perguntem a história sobre o irmão dele [veja texto na outra página]. Ele vai querer me matar e matar vocês, mas vai contar.
NOUVELLE VAGUE
Levei meus filmes proibidos [como "Viagem ao Mundo da Alucinação", 1967, com roteiro seu] para Paris, na verdade os contrabandeei e, na primeira exibição, estava Godard que, por acaso, gostou dos filmes.
Em minha primeira temporada na Europa, sem um tostão, ele me abrigou sob sua asa e, no fim da jornada, no festival de Pesaro, na Itália, eu estava sentado com a delegação da "Cahiers du Cinéma" discutindo as mais variadas idéias sobre filmes. Conheci Bernardo [Bertolucci] lá, éramos garotos dedicados, ficamos acordados até as 4h por causa de uma palestra com Pasolini e o reitor da Sourbonne discutindo qual era a unidade básica de linguagem na sintaxe do cinema, se a tomada ou seu conteúdo.
Antes de chegar ao festival, Godard havia feito a declaração de que "um filme deve ter começo, meio e fim, não necessariamente nessa ordem". Esse tipo de declaração existe porque é estimulante. Roubei muito da nouvelle vague para "Antes de Partir".
Adoro os filmes, não só do movimento mas dos teóricos da época, Kurosawa, Antonioni, posso nomear 15 grandes diretores italianos trabalhando naquela época.
CINÉFILO
Hoje em dia não vemos os filmes estrangeiros aqui, eles não os distribuem como costumavam. Antes, víamos uma obra-prima por semana, foi assim por 14 anos. Bergman, Kurosawa, De Sica, Pasolini, Bertolucci, Truffaut, Resnais, cada semana era alguém. Não sabíamos, mas era a melhor educação possível. Além disso, eles adoravam os filmes americanos tanto quanto, Huston, Ford, Hawks. Essa é a parte boa de pertencer à indústria cinematográfica, não gostamos de admitir, mas somos muito sentimentais sobre as tradições.
Ainda assisto aos filmes como cinéfilo, mas a indústria mudou, foi tomada por conglomerados. Um filme que faz, digamos, US$ 10 milhões, não significa nada porque agora se lida com centenas de milhões. Uma empresa de filmes é, de certo modo, só um departamento de organizações maiores, mesmo para as pessoas que assistem aos filmes a sensação de sucesso fica distorcida por esses parâmetros, é difícil encaixar cinema de autor nesse conceito.
FALTA DE CLASSE
O que eu sinto falta hoje em dia é de classe, essa era uma palavra que se ouvia muito antes, não apenas sobre os filmes. "Aquele cavalo tinha classe", "aquele lutador tinha classe", "aquele era um pintor de classe". Gostaria de ouvir mais isso, é algo que me deixa nostálgico.
Pelo modo como eles a usavam, eu sabia exatamente o que queriam dizer: sem truques, sem tolerar estupidez, sem comprar afeições, sem escolher o caminho fácil, sem fazer o que eu faço, ficar se promovendo. Sinto falta dessa palavra no repertório da nossa indústria, é quase embaraçosa para algumas pessoas, acham que é ingenuidade se preocupar com esse tipo de coisa. A influência dos conglomerados no mundo é a última instância, todos os outros valores são desprezados, e isso não é bom para nós.
PROJETOS
Eu venho querendo reler "O Teatro de Sabbath", de [Philip] Roth. Li todo o Roth que caiu nas minhas mãos enquanto fazia "As Confissões de Schmidt" [2002], e esse é um projeto. A coisa mais difícil de achar, tanto na literatura quanto em roteiros, é um componente sexual para um personagem mais velho. O filme que Nicole [Kidman] e Anthony Hopkins fizeram ["Revelação", baseado em "A Marca Humana", de Roth] tinha esse componente, não tenho certeza sobre "O Teatro de Sabbath", mas acho que tem, o personagem tem uma relação louca com uma húngara. Há também biografias que as pessoas vivem dizendo que deveriam ser feitas, Tesla, Napoleão, sobre quem eu preferiria dirigir um filme em vez de atuar, porque estou muito velho, segundo dizem.
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O repórter MARCO AURÉLIO CANÔNICO viajou a convite da Warner Bros.
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