sexta-feira, maio 25, 2007
Cannes e Mônaco
60° FESTIVAL DE CANNES
Scorsese emociona Cannes em aula magna de cinema
Diretor americano que ganhou Oscar com seu "Os Infiltrados" explica a 2.000 "alunos" motivos que o levaram a ser cineasta
Asma na infância foi um dos seus principais estímulos à paixão por filmes como "Vidas Amargas"; diretor destaca não-linearidade
PEDRO BUTCHER
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
Os 60 anos do Festival de Cannes tiveram um de seus pontos altos ontem, com a aula-magna proferida por Martin Scorsese. A Lição de Cinema faz parte da programação do festival desde 1991 (a primeira foi de Francesco Rosi), mas, neste ano, tomou proporções especiais. Sabiamente, a organização transferiu o evento da sala Buñuel, de pouco mais de 300 lugares, para a Debussy, com 2.000 lugares. Não sobrou nenhum lugar.
A aula foi guiada pelo crítico Michel Ciment, da revista "Positif", e contou com a apresentação de trechos de "Caminhos Violentos", "Touro Indomável", "Depois de Horas", "Cassino" e "Kundun".
Scorsese contou que a forte asma na sua infância foi a principal responsável por sua cinefilia. "Não podia praticar esportes ou brincar nas ruas, então uma das poucas coisas que meus pais podiam fazer comigo era me levar ao cinema."
Os filmes representaram também sua ligação emocional com os pais. "Como não conversávamos muito, os sentimentos que vivi com meus pais foram experimentados por meio dos filmes que eles me levaram. Era nossa conexão."
Com "Vidas Amargas", de Elia Kazan, a relação com o cinema ganhou outra dimensão. "Esse foi um dos primeiros filmes que vi obsessivamente. Perdi a conta de quantas vezes o vi. Fui seguindo o filme pela cidade, conforme ele mudava de sala", conta ele.
Aos poucos, descobriu o cinema como construção de linguagem. "Comecei a tomar consciência dos movimentos de câmera nos musicais, e acho que isso, até hoje, me leva a tratar cada seqüência de um filme meu como uma peça musical."
Com o primeiro longa-metragem, produzido por Roger Corman, aprendeu a trabalhar com todas as restrições do cinema. "Corman me ensinou a fazer um filme em 24 dias."
A natureza obsessiva, ele acredita, é inerente a quem opta por uma atividade cara e complexa. "Para fazer um filme você precisa ser um pouco maluco, precisa considerar isso mais importante que pagar as contas e ter uma vida pessoal."
Sobre a violência, o cineasta disse: "A região onde cresci em Nova York era bem violenta. E a violência é uma coisa séria, com ramificações pessoais muito graves. Mas não é apenas mostrar a violência, e sim a tensão que ela gera".
O diretor deu como exemplo seu "Os Bons Companheiros". "Na cena em que Joe Pesci espanca um homem no bar, não filmei em closes, no clássico campo e contracampo, mas em planos gerais. Você percebe a tensão pela linguagem corporal das pessoas em cena."
Scorsese afirmou que toda a sua obra nasce de uma tensão entre a narrativa clássica e a vontade de subvertê-la. "Adoro filmes estritamente narrativos, mas, quando vou fazê-los, percebo que não tenho tanto interesse", contou ele.
Sobre seus problemas em contar uma história linearmente, Scorsese citou como exemplo "Os Infiltrados", que lhe deu o Oscar de melhor diretor. "Confesso que tive enormes dificuldades para narrar partes dessa história. Evoquei Don Siegel e Hitchcock: "Deus, como vocês conseguiam transmitir essa informação de forma tão clara?"." Mesmo os mestres têm seus pontos de fraqueza.
Vedette
Falando nisto lembrei que no CCBB-RJ (f.: 21 3808-2020), coleção de 50 imagens da Casa Européia de Fotografia de Paris (MEP) inclui foto do casamento de Grace Kelly com o príncipe Rainier de Mônaco (1956); de 21/5 a 15/7. Mais aqui
Foto linda!
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