segunda-feira, maio 23, 2011

Natal na Vila


Natal na Vila
  

O silêncio, tão desejado, pesa nesta época. Os vizinhos saem com as crianças para longos dez dias de férias, apenas ela fica na vila. O irmão perguntou se queria viajar, já conhecia a resposta, difícil ela sair, ainda mais nestes dias. Depois da morte da mãe, nem ceia não faz, apenas um panetone, um presunto assado e frutas do mercado da esquina. Varia as frutas, afinal é dia de festa. O presunto assa com cuidado, regando para não ressecar.
Não sente falta da família, antes ficava mal humorada, agora não, não precisa mais fazer de conta.
Gosta da solidão, não gosta da falta dos ruídos conhecidos. Os pássaros sumiram por causa da chuva, a praça esvaziou-  o povo desaparece como mágica. Dia 25, então é pior, ninguém nas ruas, tudo fechado, todos em casa. Quando a mãe era viva, levava a mãe para caminhar, iam até a praia dar uma volta- ela com as pernas inchadas de tanto ficar em pé na véspera-  caminhava lentamente, sentavam num banco da praia a olhar o mar.
Não tem saudades, fica com raiva quando se vê como a mãe, azeda. Apenas lembra.
Amanhã, já decidiu, fará diferente, vestirá a roupa nova que fez, pegará um ônibus e fará um longo passeio pela cidade.


Um comentário:

Anônimo disse...
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