terça-feira, novembro 21, 2006

Zampanô.

















Zampanô

Abre a porta. Está escuro, quase tropeça no cão:
-Zampanô, Zampanô...
Quando acende a luz, ele sai correndo eufórico pelo apartamento, sobe no sofá, desliza pelo assoalho de sinteco.
-Zampanô, que dia foi hoje... precisava ver. O ônibus cheio, abafado, o trânsito engarrafado. Gente com cada cheiro, Zampa...
O cachorro continua pulando, desta vez em suas pernas.
- Calma, calma, senão vai desfiar minha meia.
Vai tirando primeiro os sapatos, depois as meias, a saia e por fim a blusa de frio. Continua com a camiseta de algodão e a calcinha.
Vamos lá, vou te dar comida.
Liga a TV, ainda passa a novela das sete, detesta aquela baboseira, mas vê. Diverte-se fazendo críticas azedas:
- Zampa, esta mulher é insuportável, se você visse ia concordar comigo.
Reesquenta a comida, deita-se no sofá depois de comer, só sairá dali quando estiver quase dormindo. A louça fica para amanhã, o banho fica para amanhã, a roupa jogada juntará amanhã.
- Zampa, hoje não te levo para passear, vamos ficar aqui, estou tão cansada...
A cão olha para ela com olhar atento e feliz, enquanto suas mãos alisam carinhosamente seu pêlo.


Nota: Zampanò é personagem de Fellini de La strada. Leia aqui, se quiser, Anthony Quinn fazia Zampanò e contracenava com Giuletta Masina no papel de Gelsomina, um dos personagens mais comoventes do cinema, se ainda não viu veja.
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