quarta-feira, novembro 29, 2006
Ma-noa, vida inteligente no meio na aridez.
Ontem fui fazer palestra na Fundação Ma-noa.
Ma-noa* é um lugar paradisíaco no meio das dunas do litoral norte de Natal.
O lugar fica no meio de um 'deserto'. Impressiona, parece não haver ninguém por ali, é só areia, dunas que não acabam mais. Lembrei de minha mãe dizendo que aqui em Natal ela se sente no meio do deserto- lá ela poderia dizer isto, lembram aqueles filmes que se passam do Saara. A estrada é uma reta entre dunas, depois de alguns quilometros, entra-se à direita em direção ao mar, vê-se o mar lá no fundo azul piscina. Chega-se ao Parque Ma-noa.
Bom, é 'deserto' mas tem vida inteligente. O parque aquático é o que todos imaginam, coqueiros, piscinas, tobogãs, bar dentro da água, quiosques cobertos por palha ou coisa do gênero, restaurantes, estas coisas. Hoje estava praticamente vazio e em manutenção, só as piscinas estavam liberadas.
Visitamos a escola que fica um pouco antes numa aldeia de pescadores- tem 2 mil moradores por ali, dá impressão que tem cem.
A Fundação recebe 145 crianças até a quinta série, ano que vem seráo mais, extenderão até a nona. As crianças têm aulas regulares de manhã, mais artes, computação e esportes de tarde. Tudo muito organizado. Não havia crianças naquele horário, chegamos na hora do almoço.
A diretora disse que dia tal haverá festa de final do ano e que as crianças apresentarão trabalhos que fizeram durante o projeto de literatura do ano com autores como Ziraldo, Cecília Meireles, Vinicius de Morais e Patativa do Assaré. Lembrem-se que são crianças até quinta série ( 10/11 anos).
Estão ampliando o prédio com o dinheiro de um fundo que o governo daqui dispõe para ONGS que juntam mais notas fiscais. O Ma-noa neste mês passado entregou mais de 280 mil. Fica entre os 4 primeiros colocados e tem uma verba fixa de financiamento. Por estas coisas a governadora foi eleita aqui- o mesmo aconteceu com Lula por causa do bolsa família, podem crer( o temor de que o outro candidato mexesse na Bolsa Família).
Fiz a palestra para mais de 60 pessoas, pais de alunos. Poucos homens na platéia, eu gosto, sei o quanto é difícil para homens como eles fregüentarem reuniões de escolas, eu os valorizo, destaco a presença deles, agradeço o interesse e mostro que estão querendo ser pais melhores o que já é um bom sinal. São na maioria pescadores quase analfabetos. Um homem muito envelhecido que veio falar comigo no final disse que é analfabeto e que deixa rolar na casa dele, a mulher está doente, qualquer hora morre. Não esperava que eu lhe dissesse nada, disse isto e se despediu. Queria que eu o ouvisse apenas. :)
Fui muito bem, muito aplaudida, vieram me cumprimentar, fazer perguntas, querem que eu volte. A representante e sócia da Fundação, uma mineira, me convidou para ser voluntária, vai me ligar estes dias. Ela havia dito que a palestra tinha que ser curta senão as mães não agüentavam, eu disse que me garantia e que iam gostar, dito e feito, ninguém se mexeu, prestaram muita atenção, riram, queria saber mais, até os homens me fizeram perguntas e no final ficaram me cercando- parecia padre ouvindo confissões. :)
Meus filhos foram, assistiram quase toda palestra lá no fundo, adoraram me ouvir, foi a primeira vez que me viram falando, me cumprimentaram. dan me agradeceu- não sei bem o que foi que agradeceu, ele é assim, quando fica feliz me agradece e eu acho lindo. Acho que estava querendo agradecer o fato de eue ter deixado ele ir (faltou aula) e por ter gostado. Na volta veio deitado no meu colo, fazia tempo não viajavamos assim, desde Cabo Frio, ele aproveitou o colo da mãe- está um homem, grandão- calça 43, imaginem. Os dois têm pés enormes.
Eu não leio a palestra, sigo um roteiro, falo com graça, uso expressões de nossa linguagem coloquial, nada de psicologismo. Procuro levá-los a pensar, questionar. Vejo os olhos deles super interessados, se questionando, os valorizo como pais que tem interesse em melhorar, acredito que os deixo com vontade de ser melhores- pode ser que a vontade não dure muito, mas em alguns sim- já tive retorno( de palestras feitas anos atrás) de mães que me disseram que a relação em casa com todos melhorou muito. Dou algumas dicas simples, como conversar com os filhos à sós, olhando nos olhos, respeitando-os para serem respeitados, sem Tv ligada, sem vizinhos na porta, sem gritos.
Escrevi demais.
Veja aqui como é o lugar.
*"Ma-Noa" é uma palavra de origem tupi-guarani. "Ma-Noa", segundo uma lenda indígena, é a capital mitológica do El Dorado, onde as ruas e palácios eram feitos de ouro puro. Esse lugar maravilhoso estaria localizado em alguma região do Amazonas, onde existiriam cachoeiras maravilhosas e um templo dedicado ao deus Sol. Ainda de acordo com a lenda, existiriam vários Ma-Noas no Brasil ..."
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário