segunda-feira, novembro 27, 2006
Gero Camilo e eu.
Foto Cartier- Bresson.
O ator Gero Camilo outro dia disse para a Marília Gabriela que na infância não teve acesso à cultura, não via filmes, nada. Então, iam para o quintal e inventavam, representavam. Ele dizia que quando não se tem cultura, criamos.
Lembrei que quando era bem menina, antes dos 7 anos, morava numa cidade do interior do Paraná, numa vila militar- imaginem a aridez- e brincávamos de circo, representávamos. A moeda para entrar eram botões, eu nem sei se eu representava, não lembro, mas participava, aos 7 fomos para Curitiba, isto eu sei.
Bom, eu vim para Natal e fiquei longe da oferta cultural do Rio de Janeiro e São Paulo. Lá eu ia ao cinema, teatro, via todas as exposições que me interessavam. Sempre fui muito à galerias de arte, era um programa natural, passava na porta, entrava, ou ia às 'vernisagens'. Aqui não tenho acesso à cultura, ainda. Sei que existem pessoas muito interessantes aqui, mas não conheço. Então, fiz o blog, comecei a me corresponder com pessoas de excelente nível cultural e, estimulada, impulsionada, passei a escrever com disciplina. Virei escritora porque estava sem saída, ou escrevia ou morria de tédio e abandono.
Estes dias aconteceram eventos culturais legais. E eu praticamente não vi nada. Só fui ontem ao ENE ( Encontro Nacional de Escritores), assisti Ignácio de Loyola Brandão falando e um show de uma moça daqui, que tem uma linda voz- Roberta Sá. Mais aqui, ela canta muito bem.Ouvi Capinam, quis cumprimentá-lo, mas não fui atrás, acho que ele merecia um aperto de mão. Vi Nelsinho Motta de longe de mãos dadas com uma mocinha. Zuenir Ventura estava na primeira fila atento, José Miguel Visnik estava lá, mas já havia falado, Antonio Cícero falou na véspera, Ruy Castro também, Ná Ozzetti cantou na véspera. Perdi Marcelino Freire, que já li e gostei.Perdi bastante. Não vi a programação antes, bobiei, e fiquei com a sensação de sempre de que cheguei tarde e perdi o melhor da festa.
Foi só.
Relutei em ir, era longe, estava com dor de cabeça. Quanto menos eu saio, menos quero sair. Mas valeu à pena. Se Dai não tivesse insistido não teria ido.
Eu estava lá, vendo aquelas pessoas todas estranhas- quando se vive num lugar por pouco tempo os rostos são todos estranhos- um ou outro eu já havia visto não sei onde, quem sabe na Tv? Me dá aflição isto, eu sei que vi, acho que em algum evento psi, mas não sei onde, fica tudo vago, meio onírico.
E a solidão se faz maior. Talvez eu não goste de sair por isso, é uma sensação de solidão estranha, diferente do que eu estou sentindo agora, à qual estoy acostumbrada. Estou aqui em casa só, meus filhos sairam, se eu quiser desço à piscina, converso com alguém no telefone, leio jornais, leio blogs.
Lá não, eu vi centenas de rostos desconhecidos, muitos se conheciam- a cidade é pequena- mas eu não os conhecia, e era absolutamente nada para elas. Parece que estou exagerando, né? talvez, acho que é por sair tão pouco no meio do povo, prefiro lugares pequenos, não gosto de multidões, detesto. E ontem o clube de futebol daqui ganhou um campeonato, estavam todos na rua buzinando, bêbados, como numa Copa do mundo, é muito desagradável. Fico pior, tenho vontade de me fechar mais.
Encontrei no final da festa uma conhecida da literatura que me abraçou efusiva, me fez bem, me surpreendi. Também não fui só, estava com Dai, minha amiga querida ex virtual, mas a sensação é estranha e ela que esteve fora anos, sente parecido.
Sentamos atrás do prefeito todo risonho, foi a primeira vez que o vi ao vivo. No final ele disse que fará encontros ENEs no ano que vem e no outro. Quem sabe até lá eu já estarei mais enturmada e animada, não é? Acostumbrada à vida aqui, por certo. Assim espero.
Tá bom, estou confusa, o Tec já disse, fazer o quê?
:)
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