Documentário de Sandra Werneck investiga fenômeno na periferia
"Meninas" faz retrato da gravidez adolescente
CLÁUDIA COLLUCCI
Folha de São Paulo.
As histórias das meninas-mães Luana, Evelin, Edilene e Joice, presentes no documentário de Sandra Werneck, representam um retrato das periferias dos grandes centros brasileiros. Mergulhados em um cenário de violência, os seus moradores enxergam a gravidez na adolescência como um mal menor.
Chega a dar um frio no estômago ouvir o relato de Evelin, 13, vida sexual iniciada aos 11 anos, ou de Edilene, 14, cuja mãe também engravidou na mesma época da filha. "Pensei que não pegasse mais filho", diz a mãe-avó divorciada, de idade não-mencionada.
Mas as histórias não chegam a surpreender. Na década de 90, o país viveu uma verdadeira epidemia de jovens grávidas.
Declínio
A boa notícia é que o fenômeno dá sinais de que perdeu o fôlego. Pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Ministério da Saúde mostram que a taxa de meninas entre 15 e 19 anos grávidas vem diminuindo desde 1999.
Dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mostram que, em 2003, havia 81 mulheres grávidas para cada grupo de mil adolescentes entre 15 e 19 anos. Em 1999, quando foi verificado o pico desse fenômeno, a taxa era de 90,5 por mil.
Entre as principais causas para essa queda, estão a atenção dada pela mídia ao assunto, expondo as conseqüências negativas da gravidez adolescente, e as iniciativas bem-sucedidas do poder público. Uma delas foi a atenção dada ao público adolescente em campanhas sobre Aids e doenças sexualmente transmissíveis.
A distribuição da pílula do dia seguinte na rede pública de saúde também é lembrada.
Ainda assim, não há motivo para comemorações. As taxas brasileiras ainda são altas se comparadas a países desenvolvidos e há um grande diferencial entre as classes sociais.
A incidência de gravidez na adolescência é nove vezes maior entre meninas de baixa renda e escolaridade (taxa de 223 por mil) do que entre as mais instruídas e de mais renda (taxa de 22 por mil), segundo o Censo de 2000.
O mérito de Werneck está em expor o problema sem maquiagem. A pergunta que fica é se as entrevistadas manteriam a escolha se tivessem as mesmas oportunidades e condições de vida que as meninas de maior renda.
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