terça-feira, maio 09, 2006

A primeira feminista na imprensa e eu.

Hoje estou exausta, o dia no hospital ontem tirou minha energia toda, vou para a piscina meditar e bater as pernas para ver se melhoro, estou triste, é ruim, a piscina melhora meu humor, as nuvens.

Achei este artigo ontem e fiquei pensando que se alguém fez minha cabeça, além dos escritores que li mocinha- os clássicos russos e romancistas como Graham Greene (quando tinha uns 15 anos tive escarlatina e li 7 romances dele em uma semana), talvez tenha sido esta mulher Carmem da Silva, eu era menina moça e lia todos os artigos que ela escrevia, era uma mulher inteligente e sabia escrever, foi ela que me instigou a estudar psicologia, eu acho, desde adolescente lia tudo sobre psicologia- Erich Fromm, tinha uns livros fáceis de ler, sobre amor e sonhos( "A arte de amar" e "A linguagem esquecida" livros que havia em minha casa, eu não comprava nada, lia o que havia na estante, também tinha Françoise Sagan ulalá, eram quentes, minha mãe também gostava de Lorca, teatro em geral, Sofocles, Eugene O'Neil, devorei tudo.Ah! eu não li Simone de Beauvoir, li dois livros de Sartre, implicava com eles, nem sei porque. Eu queria seguir o que me dava na telha, sem ninguém como guru, fui uma mulher livre, era muito mais livre que todas as que eu convivia e conhecia- exceto as Leilas Diniz da vida, que eram mais livres que eu, eu só era prisioneira dos meus fantasmas pessoais que foram muitos. Chega de falar de mim.


Bom, estou há um tempão querendo escrever sobre Nisia Floresta, talvez Dai tenha algo sobre ela, eu tenho preguiça de digitar, sou péssima aqui. Tenho um livro sobre mulheres brasileiras que fala dela e outras, um livrão.Hoje achei este artigo na Nomínimo.


A primeira feminista na imprensa


Carla Rodrigues



08.05.2006 | Era um tempo em que as revistas femininas ensinavam às mulheres como fazer para agradar seus maridos, que deviam ser preservados das chateações domésticas, não podiam ser importunados com os problemas das crianças, e precisavam ser tratados como uma espécie de rei na monarquia particular que vigorava nos lares da classe média brasileira. Às mulheres cabia o papel de cuidar para que, no mundo do homem casado, tudo fosse perfeito. Foi nesse contexto que entrou em cena a jornalista Carmen Silva, que a partir de 1963 assinou a coluna “A arte de ser mulher” na revista Claudia. No livro “Carmen Silva – o feminismo na imprensa brasileira”, a jornalista Ana Rita Fonteles Duarte resgata a carreira profissional e a história de vida dessa mulher que soube combinar transformações pessoais com militância.

Este é um dos grandes feitos do trabalho de Ana – misturar análise da obra de Carmen com o resgate biográfico de uma vida que se confude com a carreira profissional e com a militância na causa feminista no momento de sua segunda emergência no Brasil. Depois do movimento das sufragistas nas décadas de 1920 e 1930, foi no final dos anos de 1960, ainda de forma tímida, e com grande vigor a partir de 1975, que o movimento feminista entrou na agenda política do país. Carmen foi parte ativa dessa revolução e seus textos na “Claudia” foram pioneiros em defender um novo papel para a mulher nas relações pessoais e na vida pública.

O primeiro passo fundamental do seu trabalho foi apontar a situação de desigualdade na qual vivia a mulher. Naquele momento em que a vida da mulher casada deveria girar em torno do marido – idéia que a própria revista também defendia –, Carmen começou a instigar importantes rupturas nesse modelo. A leitora de “A arte de ser mulher” era “incentivada a questionar as atitudes masculinas”, lembra Ana Rita. A arma de Carmen, no entanto, não era o confronto, mas o diálogo. Instrumento revolucionário, considerando que o lugar majestático do marido de então não facilitava questionamentos. A infidelidade masculina, por exemplo, era plenamente aceita como parte “natural” do comportamento dos homens.

Outra bandeira pioneira nos textos de Carmen foi a defesa da regulamentação do divórcio no Brasil. A partir de 1966, ela passou a criticar a “marginalização social” de homens e mulheres que se desquitavam. Ela passa também a questionar que o casamento seja a única forma de realização feminina. “O casamento, em vez de ser considerado um entre vários objetivos existenciais, passa a ser sua finalidade exclusiva. A mulher, entre nós, é formada, educada e condicionada para conseguir marido”, apontava a colunista há 40 anos. Suas críticas de então hoje chegam a parecer ingênuas, pelo menos dentro do mesmo universo para o qual ela escrevia: mulheres de classe média hoje trabalham para complementar orçamento doméstico, quando não sustentam sozinha a casa.

O patriarcado contra o qual Carmen militava está em franca decadência, sendo substituído por modelos mais horizontais de relacionamentos afetivos e familiares. Homens e mulheres ganharam novas possibilidades de realização e chega a ser difícil entender, hoje, porque as bandeiras de Carmen eram tão inovadoras. No entanto, um saudosismo o trabalho de Ana Rita provoca: como era bom o tempo em que o bom jornalismo, como o de Carmen, significava uma forma cultural fundamental de intervenção na vida pública do país.

Dissertação de mestrado defendida na Universidade Federal do Ceará, o trabalho de Ana Rita foi publicado graças a um importante iniciativa que reúne o Núcleo de Documentação Cultural da Universidade Federal do Ceará, o Sindicato dos Jornalistas e a Sociedade Cearense de Jornalismo Científico e Cultural. Prova, também, como é fundamental olhar para aquilo que acontece para além do Rio de Janeiro e de São Paulo (não, leitores, eu não acho que o Brasil é só Rio e SP).

E por falar em feminismo

A Editora Mulheres, de Santa Catarina, tem um importante trabalho editorial de textos de ou sobre mulheres. Mais uma porva de que é ótimo olhar para o que acontece fora do eixo RJ-SP, a editora lançou recentemente o livro “Madeleine Pelletier – memórias de uma feminista”, iniciativa que se soma aos livros “Nísia Floresta, a primeira feminista do Brasil” e Maria Lacerda de Moura, uma feminista utópica”. São bem-vindos os textos que resgatam a importante contribuição das mulheres à causa dos direitos.

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