segunda-feira, abril 17, 2006
Mini conto.
Mini conto.
Não esquece a primeira vez que o viu, ele estava de suéter azul petróleo, cabelos curtos e grisalhos. Gostou do jeito cosmopolita. Não sabia que passaria a conviver dia após dia com ele.
Ele veio até ela e perguntou onde era a sala do diretor, sorriu ao agradecer. Com o tempo descobriu que o sorriso não é fácil, há uma tensão constante, ao abrir o sorriso fica mais bonito, tem lindos dentes.
Passou a sonhar, cada sorriso era uma esperança, afinal o amor por ele valia por dois. Queria saber mais dele, ninguém sabia, era discreto, não se fazia intimo.
Um dia ele disse que ia ao cinema, ela pensou alto ‘tanto tempo não vou ao cinema’, ele disse: ”então vamos amanhã quando acabar o expediente”.
Naquela noite não dormiu. Chegou cedo ao escritório, ele não chegou. Ele não apareceu aquele dia, nunca havia faltado o trabalho, estranhou.
Voltou à pé para casa, precisava caminhar, os pés doíam, usava saltos altos, a cada toc toc sentia mais dor, queria aquela dor.
Na manhã seguinte acordou lentamente, não queria acordar, não cumpriu seu ritual matinal nem colocou os saltos altos.
Quando chegou no escritório ele estava no cafezinho, conversava com alguém, contava que passara mal durante o dia, mas à noite foi ver um filmezinho. Ao vê-la diz: ”Ih... esqueci de você, queria ir ao cinema também, vá ver o filme que eu vi, vale à pena”.
Trancou-se no banheiro e chorou.
Ele esquecera dela, tão insignificante, um verme.
Esta noite matará este verme,com certeza.
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