quinta-feira, janeiro 26, 2006

"O Mistério das Bolas de Gude" de Gilberto Dimenstein.












Leiam o artigo da Folha abaixo.
Esta questão de invisibilidade é importantíssima.
O olhar do Dimenstein é sempre positivo, pelo menos desde N.Y. eu o leio e é assim, difícil ele falar do lado negativo, derrotado, há sempre uma luz no fim do tunel, por isso eu gosto dele, porque tbm acho que é preciso fazermos TODOS algo, não esperar o poder público, cada um sentir-se responsável por este excluido ai do seu lado. É o principio do cristianismo, né?
Vocês conhecem o Projeto Aprendiz? fica em Vila Madalena, vão conhecer, é fantástico.


CRÍTICA

Livro explicita ligação entre jornalista e cidade
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

"O Mistério das Bolas de Gude" trata de dois temas: pertencimento e visibilidade. Os termos inusuais podem parecer papo de ongueiro -e até são-, mas escondem uma história de amor que vale a pena ser contada. O amor de um jornalista por duas cidades.
O jornalista é Gilberto Dimenstein, desta Folha, autor do livro e criador da ONG Escola Aprendiz, localizada na paulistana Vila Madalena (zona oeste da cidade).
A primeira cidade, o paradigma, é Nova York, onde ele viveu por algum tempo na década de 90, quando os nova-iorquinos tomaram de volta suas ruas, impulsionados pela política de tolerância zero da polícia e pelo crescimento econômico dos Estados Unidos.
A combinação dos três fatores (cidadania, segurança e dinheiro) deu no que deu: uma das maiores cidades do mundo com índices de criminalidade de município interiorano dos anos 60.
A segunda cidade é São Paulo, onde Dimenstein vive hoje. A tese que ele vende, polêmica, é a de que a metrópole brasileira trilha o mesmo caminho de sua parente americana. O leitor tem todo o direito de discordar de tal premissa, mas este repórter avisa: vale a pena sentar e ler as histórias que o jornalista conta para ampará-la.
Pois, como mostra em suas duas colunas neste caderno Cotidiano e vem mostrando ao longo de três décadas de carreira, mormente nos últimos 16 anos, Gilberto Dimenstein sabe olhar onde estão as histórias, voltar para o computador e contá-las.
São casos pungentes de anônimos, de celebridades que superaram obstáculos pessoais terríveis ou de celebridades que descobrem um sentido na vida quando passam a ajudar anônimos. Como pano de fundo -e como personagem também-, a cidade. Mesmo aqui, o autor faz a opção preferencial pela urbanidade, não pelo urbanismo oco e descritivo.
Há o pianista que sobreviveu à perda dos movimentos nas duas mãos, a mãe que vê morrer a filha recém-nascida e passa a ajudar outras mães como ela espalhadas pelas UTIs, o emigrante que descobre a arte nas pedras da penitenciária recém-demolida.
E assim, cercado de boas histórias e auxiliado por estatísticas, Dimenstein defende nas 190 páginas que, ao se tornar visível, o sujeito vira cidadão. Defende também, como fazia o escritor cubano naturalizado italiano Ítalo Calvino (1923-1985), que o mesmo acontecerá se esse sujeito perceber que pertence a algo maior que ele, que também lhe pertence.
A cidade.
Pertencimento lembra uma das prováveis origens da palavra religião (questionada por alguns etimologistas): "religar". Religar cidadão e cidade, sujeito e sociedade, eis o credo de Gilberto Dimenstein.

Livro: O Mistério das Bolas de Gude -Histórias de Humanos Quase Invisíveis
Autor: Gilberto Dimenstein
Editora: Papirus (190 págs.)
Quanto: R$ 28

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