Michal Zaborowski6
Os feirantes desmontavam as barracas, conversando alto, ela vinha andando no meio das frutas, ouvindo as piadas, algumas para ela, fingia não ouvir. Já havia comprado o que queria, precisava sair logo dali.
O sol encoberto por uma nuvem densa, do chão úmido e quente vinha cheiro de frutas maduras, hora do almoço, sentia fome, queria chegar em casa logo, comer uma fruta fresca.
Era na esquina que ficavam as flores, escolheu um vaso de azaléias.
Olhou para o meio da praça e o viu no momento em que cumprimentava uma mulher, deu um beijo, tocou no seu braço, depois colocou o braço sobre o ombro dela e seguiram em direção ao Leblon. Seu coração saltou acelerado, deve ser a mulher dele, ou namorada, pareciam íntimos, vão almoçar juntos, com certeza. Parou com o vaso na mão e ficou olhando o casal, ela magrinha, pernas finas, vestia saia e blusa, elegante e discreta, verde a blusa- não usaria verde nunca, odeia- ele como sempre de azul, desta vez mais claro. Depois que desapareceram na esquina voltou a caminhar, desanimada, olhando para o chão. Sentiu desejo de chorar, não por ele, mas por ela, pela vida. Sentiu o quanto era só.
Entrou na Vila e sentiu o frescor da sombra, os cheiros da comida vindo dos vizinhos, os ruídos, viu o gato a sua porta, à espera.
Abriu a porta, largou as compras na pia, colocou água nas azaléias, lavou um pêssego e pensou que não tem coisa melhor do que estar em casa e comer uma fruta fresca.
Ele diria, se pudesse, que esta é a realidade, que aquela é sua mulher, a ela resta sonhar.
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