sábado, setembro 03, 2005

Uma noite na Villa Ipê.
















O corredor onde eu sentava era comprido e estreito, ali ficavam as portas para os quartos dos pacientes, naquele dia deviam ter uns 30 internos. Um longo corredor onde, além das portas para os quartos, havia os banheiros e no outro extremo o quarto do outro auxiliar psiquiátrico, ficávamos sempre um auxiliar efetivo, com mais de um ano de Villa e outro estagiário.
Eu colocava uma cadeira, estas de plástico branco, bem em frente a janela com grades, ali eu tinha a visão do corredor todo, ficava ali à partir de nove da noite, hora de recolher os pacientes. Ficava estudando, lendo, à uma da manhã chamava o outro para me render, escolhíamos quem ia ficar no primeiro turno. Até meia noite alguns vinham puxar papo, pedir remédio, iam ao banheiro. Depois da uma hora acalmava.
Havia o médico de plantão na casa da frente, a Villa era composta de duas casas, na frente ficavam os consultórios do hospital dia e a atrás a pequena clínica.
Uma noite chegou um homem completamente alterado, veio de outra clínica, estava cheio de hematomas nos braços pelas injeções tomadas, era um rapaz forte, grande, estava revoltado, chegou e quebrou todos os trincos do andar de baixo tal a força, depois de medicado, deitou no sofá da sala de Tv e não quis subir.
Neste dia eu escolhi pegar à uma hora, imaginamos que seria mais fácil para mim, estagiária, que até lá ele estaria mais calmo.
Jonas,o outro auxiliar foi dormir à uma hora e eu fiquei na cadeira embaixo da janela, estava assustada aquele dia como nunca, o paciente lá embaixo a cada meia hora fazia um barulho de arrastar cadeiras, eu corria para a porta do auxiliar, aguardava ali até ele silenciar, imaginava que subiria as escadas, mas voltava o silêncio e eu voltava para a cadeira, ele voltava a arrastar cadeiras, eu corria para a porta do Jonas, e assim fiquei até sete horas da manhã, quando o pessoal da manhã nos rendia. Nunca esperei com tanta ansiedade um amanhecer.
Ele arrastava a cadeira porque era alto e quando esticava as pernas batia nas cadeiras.
Pobre homem.


Acordei com esta música na cabeça, não sabia que era de Roberto Carlos, fiquei surpresa, eu não gosto de quase nada dele, sorry fãs. Bethania canta divinamente como sempre.


Fera Ferida



Acabei com tudo, escapei com vida, tive as roupas e os sonhos rasgados na minha saída.
Mas saí ferido,sufocando o meu gemido, fui o alvo perfeito, muitas vezes no peito atingido.
Animal arisco, domesticado esquece o risco, me deixei enganar e até me levar por você.
Eu sei quanta tristeza eu tive, mas mesmo assim se vive, morrendo aos poucos por amor.
Eu sei, o coração perdoa, mas não esquece à toa, o que eu não me esqueci.
Eu andei demais, não olhei pra trás, era solta em meus passos, bicho livre sem rumo sem laços.
Me senti sozinha, tropeçando em meu caminho, à procura de abrigo um lugar um amigo.
Animal ferido, por instinto definido, os meus passos desfiz, tentativa infeliz de esquecer.
Eu sei que flores existiram, mas que não resistiram à vendavais constantes.
Eu sei, as cicatrizes falam, mas as palavras calam, o que eu não me esqueci.
Não vou mudar, esse caso não tem solução, sou fera ferida, no corpo na alma e no coração.
Eu sei que flores existiram, mas que não resistiram à vendavais constantes.
Eu sei, as cicatriz falam, mas as palavras calam, o que eu não me esqueci.

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