segunda-feira, julho 11, 2005

O Bispo do Rosário e o mundo injusto dos loucos.


Grande arte.Bispo do Rosário  Posted by Picasa

Ontem tive um dia tranqüilo, acordei feliz, será que tive algum sonho bom e não lembro? aqui na real está tudo igual, as mudanças são internas, sempre.
Almocei com a família e depois fomos passear no Centro de Natal, eu conheço bem algumas ruas ali, ando à pé, mas fomos de carro pela beira mar, Praia dos Artistas, Praia do Meio, Forte dos Reis Magos e finalmente o pôr do sol no rio Pirangi. Sempre é bonito, ontem não estava exuberante, vermelho, mas suave com tons de dourado. Na volta aqui no mundo virtual descobri um endereço do Bispo do Rosário com a Viviane, que eu não conhecia.
Sou apaixonada pelos trabalhos do Bispo e de outros artistas do Museu do Inconsciente, lamento não ter conhecido Nise da Silveira, naquela época eu não tinha tempo nem urgência para nada, Nise fez um trabalho extraordinário, reunindo a produção de artistas fantásticos que eram internos no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro. Fui conhecer os artistas em exposições no Brasil 500 anos, no Paço Imperial e no MNBA do Rio, onde vi documentários sobre eles, fantásticos, Leon Hirszman fez um sobre Adelina Gomes, comovente, maravilhoso.
O museu contém peças de Emygdio de Barros, maravilhoso, lembra Van Gogh, vi no Paço Imperial uma exposição inesquecível dele, Carlos Petrius, Fernando Diniz, são também artistas extraordinários.


Emygdio de Barros Posted by Picasa


Eu gosto muito dos loucos, vocês me conhecem sabem que não há conotação pejorativa aqui, ao contrário, sempre gostei e tenho ótima relação com eles, devo me identificar, quem sabe. Trabalhei em dois hospitais psiquiátricos e tenho saudades, eu gostava muito, muito, de trabalhar lá. Conversava com os internos, as conversas são muito interessantes, é só você entrar no mundo simbólico que te apresentam sem medo ou preconceito. Lembro de João, de Paulo, que estava internado em plena euforia, mania, não parava de falar e era inteligentíssimo, havia lido Freud em alemão. Era um homem sedutor, mais tarde o vi na TV numa criação de algo que não sei bem agora se era cogumelos ou rãs, estas culturas novas aqui no Brasil. M. chegou sem falar, levou dias e dias dar uma palavra, eu me aproximei e depois de muito cuidado, respeitando o seu silêncio ele voltou a falar muito pouco, era uma caso de esquizofrênia que se iniciava, devia ter uns dezessete anos. Eu me comovia muito, imaginem, mas sabia me colocar, já fazia análise, mas era estudante de psicologia, devia estar no terceiro ano, por ai. Sempre fui fascinada por psicanálise, e esta clinica que me refiro tinha como donos e supervisores psicanalistas conhecidos do Rio de Janeiro. A clínica não durou muito tempo, não conseguiu se manter, eram muitos donos, tinha uma infraestrutura muito cara e a crise chegou lá também, precisou fechar, uma pena. Recebia apenas uns 30 pacientes e o atendimento era de primeira, todos tinham um auxiliar psiquiátrico para acompanhá-los, eu era um deles.
Quando abri o site do Museu do Inconsciente sabia que hoje tinha que colocar o endereço aqui.
Vejam o trabalho do Bispo do Rosário, para mim um dos maiores artistas plásticos brasileiros. Quem não conhece o trabalho do Bispo não sabe o que está perdendo, é simplesmente divino, além de usar sucatas, ele bordava, com os fios que desfiava das roupas que usava no Hospital, além disso escrevia bordando coisas interessantíssimas, contava histórias, viajava nos trabalho e nós viajamos com ele, lamentando que tenha passado a maior parte da vida preso num hospital para loucos. Como este mundo é injusto.
Vejam aqui também.


Adelina Gomes Posted by Picasa


Fernando Diniz Posted by Picasa

Eu convivi om os doentes mentais bastante tempo e aprendi a amá-los, respeitá-los,a não temê-los, são como nós, a diferença é que neles a angústia é tanta, a dor tão grande que dissocia, transborda para a vida, contamina todas as suas relações com o mundo, em nós a loucura fica mais sútil, muitas vezes escondida, resguardada sob a farsa das convenções sociais. Muitas vezes preferi estar lá no meio deles, onde não havia hipocrisia do que do lado de fora, você não pode mentir para um Homem à flor da pele, ele te flagra e te denuncia, para lidar com os doentes mentais, os loucos, é preciso estar disposto a não mentir, nem para você nem para ele, quantos de nós tem esta coragem?

Bom dia.

Um comentário:

Irene disse...

Amazing beauty in his art. It sends love and freedom to everyone who cherish them. I wish to see His art in person if I can. I live in New Zealand
from, Irene Levangie