segunda-feira, julho 18, 2005

Nelson Freire, talento e simplicidade.


Entardecer na praia. Posted by Picasa

Gosto de ir á praia à tarde, sempre gostei, detesto sair da praia com calor, pegando fogo, ao entardecer, que é a melhor hora de curtir a praia, seu corpo também se acalma, refresca, dá vontade de se recolher assim como o sol. Depois de uma tarde muito agradável na Praia de Ponta Negra, revi o filme de João Moreira Salles sobre Nelson Freire. Que delícia.
É um filme intimista, fiquei logo encantada pelo pianista, pela delicadeza, timidez dele, lembrei de um amigo mineiro pelo jeito de falar. Aos dez anos de idade me apaixonei por um vizinho pianista, eu ficava horas na janela ouvindo-o tocar, ele nem notava minha existência, imaginem... devia ter uns anos a mais, era um rapaz alto, bonito, amigo de uma tia que é mais velha que eu uns seis anos. Esta paixão durou cinco anos, acreditem. Minha tia era um tanto má comigo, quando eu estava com quinze anos, mandava eu sair da sala porque queriam conversar- os mais velhos- eu aprendi muito com esta experiência, sou extremamente cuidadosa com o sentimento dos jovens e crianças. Eu sofria, vivia na janela, ninguém prestava atenção em mim, fui uma menina e jovem muito triste.
O filme me emocionou muito, me levou àquela casa lá na rua Nunes Machado em Curitiba, onde eu ouvia o vizinho pianista e o disco de 48 rotações do concerto nº 2 de Rachmaninoff muitas vezes, era minha música preferida, chorei de saudades de meu pai, ele adorava música clássica, comprava coleções, brincava de reger conosco, éramos três filhos, eu a mais velha.
Nelson Freire interpreta interpreta o concerto nº 2 de Rachmaninoff na integra com a Filarmônica de São Petersburgo.
Toca divinamente Brahms, Tchaikovsky, Chopin, Bach, Villa-Lobos. Vemos no filme a amizade dele por Martha Argerich, pianista Argentina que ele conheceu há quarenta anos. Há uma cena muito engraçada que mostra bem a gentileza de Nelson Freire, um caricato jornalista francês o faz posar para a foto fingindo ler um jornal a beira de uma piscina e dizer uma frase em francês com sotaque português, forçado, depois faz uma pergunta idiota tipo se clima do Brasil faz com que toque de forma diferente, ou coisa do gênero, aqui o João M. Salles corta. O filme é muito bem editado, tem cenas lindas, a que mais gostei foi quando o Nelson via na TV um filme com Rita Hayword e Fred Astaire dançando e o câmera quer pegar só a emoção dele, então Nelson aponta para a TV mais de uma vez, queria que nos mostrasse a cena de dança maravilhosa que ele via. Um barato, nesta cena dá para ver a generosidade de Nelson Freire. Ele não precisa ser um astro, ele apenas mostra o que sabe fazer e muito bem tocar piano.

Leveza e magia. Posted by Picasa
Quem não viu corra para ver, é um filme imperdível. Muito bom ver um brasileiro que saiu lá do interior de Minas fazer este sucesso pelo mundo, é ovacionado, emociona ver o suceso extraordinário e a sua simplicidade.
Estranho lembrar que na ocasião do lançamento houve comentários negativos sobre o filme, só pode ser má vontade com os Moreira Salles- sabemos que existe- ou gente que não gosta de piano, então sim, passe longe. Meu pai aqui faria a piada:”edipiano”.Brincava com as palavras o tempo todo.
Um filme que me fez viajar no tempo.

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