Dois fuscas. 

Outro dia vi uma reportagem sobre os cinco jovens brasileiros e um argentino* que fizeram uma viagem super interessante pela América do Sul para um documentário " Os caroneiros". Eles pegaram dois fuscas e saíram dando carona do Rio de Janeiro ao Ushuaia (Argentina), passando por Chile, Uruguai e Paraguai, talvez a idéia venha da viagem de Che Guevara, devem ter se encantado com o livro e filme. Queriam descobrir as identidades e diferenças entre as nossas culturas, tão próximas e tão distantes.
A primeira coisa que notaram foi que no Brasil não se pega mais carona, as pessoas têm medo, os carros precisavam ser esvaziados à noite, nada podia ficar senão seria roubado, era o aviso de todos, ao saírem do Brasil a diferença, muitos pedindo carona, pais levando filhos para a escola, viajantes, o povo dos lugarejos em geral.
Percorreram 18 mil kms em 72 dias e ficaram no máximo 4 dias num lugar- Buenos Aires- na média ficavam 1 ou 2 dias em cada lugar.
Notaram que a rivalidade entre argentinos e brasileiros é mais folclore que realidade, argentinos não gostam de chilenos, aí sim a rivalidade é para valer, fato recente- na Guerra das Malvinas o Chile ficou ao lado da Inglaterra, também...
A experiência foi especialmente rica individualmente, tiveram que se tolerar naquela espaço exíguo dos fuscas, dividido com os caronas, com apetrechos de filmagem e som, precisaram de malabarismos subjetivos e físicos, se revezavam ao volante e na filmagem, o que filmava ficava de joelhos voltado para trás e técnico do som encolhido num canto e o carro fechado, todos morrendo de calor. Que viagem, hein? Por que o fusca? porque foi o que conseguiram, tinham os fuscas e pela economia de combustível.
Contam do cotidiano, que alguns ficavam dias sem banho, das implicâncias geradas pelo convívio forçado, que as moças em alguns dias queriam ficar juntas num carro para conversarem melhor (não impliquem) e apesar de 3 homens e 3 mulheres dizem que não rolou nada.Também com gente sem banho três dias é melhor ficar longe mesmo e provavelmente se rolassem casos teriam mais problemas.
Deram carona para pessoas de nível universitário, sociólogos e gente do povo, a maior parte, naturalmente.
Lembra a viagem do Che mas me lembra também um filme mexicano delicioso “E a Tua Mãe Também “ (“Y tú Mamá Tambiém”), de Alfonso Cuarón. com Gael García Bernal, Diego Luna.. Só lembra pelo cenário e a viagem, porque a viagem dos três jovens neste filme é interior, um belo filme e bastante erotizado, tem umas cenas de sexo muito quentes e boas.Fala da descoberta do sexo e da morte,que não por acaso vêm sempre juntas, amor e morte, mas não vou filosofar aqui.

*Os Caroneiros: Martina Rupp, 25, carioca, diretora, roteirista e terceira câmera
Pedro Sá Earp, 27, carioca, técnico de som e edição
Joana Clark, 23 anos, carioca, produtora
Santiago Harte, 27, argentino, fotógrafo e assistente de roteiro
Magdalena Alsina, 32, argentina, segunda câmera e assistente de produção
Carlito Flach, 32 anos, catarinense, mecânico
Blog dos caroneiros, aqui.

Bom dia! Boa viagem!