sexta-feira, maio 13, 2005
Mais uma carta de Pimenta.
Inatingível.
Hoje acordei à flor da pele, já me comovi com o texto do Santos Passos e com uma amiga que me escreveu, aí decidi colocar um texto do meu amigo Pimenta, que me amou intensamente sem nada pedir- se você quiser ler mais cartas e poemas dele encontrará em posts anteriores. Abri a pasta e encontro esta carta, é de doer. Ele morreu um pouco depois de aneurisma, ou doença de Chagas, não sei, não importa mais, tinha menos de trinta anos, era engenheiro e poeta. Onde encontrar amigos deste teor? Pois é, amiga, é difícil viver longe dos amigos, a vida fica seca.
Niterói, 13 de março.
Laura querida
“Você está linda. Assim na carta, o caminhar estranho em chão de pedras, o velho, seu livro, deram-me uma sensação de desencontro em mim mesmo, o que você deve ter sentido também, um analfabeto acharia sua carta bonita, a letra, o jeito feminino ( aliás esta mulher –total em você até me assusta, porque não se dá,não se conhece) de tudo, lembrando seda/rosa, quietude e horizontais. Eu não posso falar destas coisas, não, eu não posso, porque existe a promessa de uma nitidez e coerência, apego ao aparente –real e o encanto me leva a desvarios, e as palavras embriagam. Mas, que fique a proposição : Laura, você é linda.
A morte, suas redondezas, radijacências. Nós estamos computados. Não creia na data/fim, ela é medo apenas. Eu a vi no espelho hoje, branca, trêmula, sardenta, ruiva: roubara-me a figuração. Caratonhei, vias de dúvida- ela mesma suarenta, querendo sentar. Eu não costumo aceitar ordens da morte, mesmo quando me leva amigos e mestres conhecidos. E ouvi dizer: espera. Entende? Não há porque, janelas abram-se em plenilua. Meu anjo.
Ah, Laura, quanta forquilha, quando se espera! Deixa estar.
Vou escrever para você- a que me ouve,a que não tem medo de dizer amizade. Meu anjo, ainda te conheço qualquer dia desses!
Um beijo,
Pimenta.
PS: Sou um imbecil, mas não vem ao caso. Em miúdos: até hoje não sei falar com você. Aceita uma visita?
Bom dia!
Namastê.
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