quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Drummond e eu- A flor






Certa vez, passando pela rua Vinicius de Moraes vi, na vitrine de uma floricultura, uma linda flor numa taça rasa. Era um crisântemo branco, enorme. Fiquei encantada, lembrei de Drummond e pedi para a florista enviar-lhe com um cartão.

Não lembro o que escrevi, foi algo especial, afinal era para o meu amigo mais importante.

Dois dias se passaram e nada dele agradecer. Estranhei, afinal nos comunicávamos com alguma freqüência. Passei na loja e a florista disse que havia entregado, e quis confirmar a entrega na minha frente. Quem atendeu o telefone foi a esposa de Drummond, disse que a linda flor estava enfeitando sua mesa e agradeceu.

Fiquei surpresa e liguei para ele perguntando o por quê do silêncio. Sabe o que respondeu? Que a flor o havia colocado numa situação constrangedora diante da esposa, que uma mulher quando manda uma flor para um homem deseja algo mais.

Fiquei uma fera, esqueci o poeta, a idade dele, e fiquei um tempão sem falar com ele. Pensava: tinha que ser machista, não poderia ser diferente! Fiquei desapontada. Além do mais, ele mentira! A mulher gostou da flor, era muito linda, mesmo, antes tivesse comprado para mim!...

Depois de um tempo a raiva passou, pensei que ele havia nascido em 1902, eu estava querendo muito de um homem da sua geração, então telefonei. Estava doente há dias, com infecção renal, a filha havia piorado também.

A dor pela filha me comoveu muito, foi muito dolorido para ele vê-la adoecer. Ele a visitava todos os dias,tomava conta dela, já numa cama d'água. Eu ainda não tinha os meus meninos, mas podia imaginar o que é perder um filho- não pode haver dor maior.

Drummond morreu doze dias depois da morte da filha. Eu falei com ele alguns dias depois, ele disse estar conformado, que ela sofria muito... Mentiu. Morreu de tristeza.

Mais aqui.

Aqui eu conto como conheci o Drummond.

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