sábado, março 11, 2023

Reflexões sobre a vida aos 75 anos

 



Imagem Costanza Pascolato, revista Vogue


Ninguém gosta da morte ou falar sobre. Mas sinto que é preciso. 

Quando jovens, a onipotência predomina, não percebemos a vulnerabilidade da vida. Há uma vida pela frente, muitos caminhos a escolher. 
Ao chegarmos à meia idade percebemos que tudo passou muito rápido, que fizemos escolhas que trouxeram mais dor do que alegria de viver. Mas há que seguir, o trajeto nem sempre leve, para a maioria de nós. Nos apegamos aos filhos, parceiros, ao trabalho, àquilo que nos traz mais satisfação. 
Os amigos começam a ir embora, muitos sem tempo para despedidas.. Quantos, distantes, e a notícia chega por uma voz ao telefone quando tentamos falar com eles. Outros ficaram perdidos pelo caminho e nunca mais deixaram rastros. Outros mudaram tanto que, apesar do afeto impossível de apagar, é torturante dialogar ou conviver.
C'est la vie.
Passamos a lembrar da juventude e questionar o porquê de certos encontros ou desencontros.

Agora, à distância, percebemos o quanto éramos imaturos, despreparados para a vida. 
Mas quem está? 

Nossa cultura ocidental, especialmente, nós, latinos, fomos protegidos mais do que deveríamos e ao sair para a batalha, desconhecemos os desafios que encontraremos. Como preparar alguém para a vida?  A experiência do outro vale muito pouco para nós, estamos sempre pensando por conta própria, o que é saudável, claro, mas que traz consequências. 

Vamos seguindo instintos e emoções- amores, paixões.
E agora ao olhar para trás nos encontramos repletos de perguntas.
Vittorio Gassman numa entrevista inesquecível, diz que deveríamos viver duas vezes: a primeira como um ensaio para a segunda. Quem me dera! Ah! Aquele dia em que conheci aquele jovem, ambos com 17 anos, teria sido diferente... Teríamos sido felizes?  

Esse jogo é um pouco perigoso. Pode nos trazer nostalgia.
Não sinto tristeza. A velhice traz um sossego n'alma. Não há mais grandes  expectativas.

O jogo está posto. Claro que pode-se mexer em algumas cartas, mas não muito. 
Não há mais muito a esperar. 
E a morte fica cada dia mais próxima. 

Um comentário:

Dalva Santos disse...

Meu domingo ficou bonito agora, lendo seus maravilhosos textos, Elianne. Obrigada por tanto, querida! Esse é punk ❤️. Bjo, Dalva