A "filha" do pastor
Perto dos 15 anos a mãe chegou do culto e disse: " A mulher do pastor falou que você pode ir todos os dias para a casa deles à tarde, assim te ajudam nos estudos", a jovem, pequenina e pálida, me disse.
No dia seguinte, conta, saiu da escola, passou em casa, almoçou o que havia na panela- comida feita na véspera pela mãe que trabalhava de faxineira. O pastor estava descansando, a mulher disse ao recebê-la: "Sente aí que venho logo para te ajudar nos estudos". No meio da tarde, fez um lanche com direito a bolo e refrigerante. Voltou ao anoitecer para casa, a mãe ainda não havia chegado, o irmão mais velho bebia no bar da esquina, enquanto jogava porrinha. "Esse menino é minha cruz", repetia a mãe pesarosa todos os dias. "Você é a minha esperança, estudiosa que é." Gostava muito de ler e estudar, desde menina.
Tomou banho, ainda não sentia fome. A mãe sempre fazia tapioca na hora do jantar. Se tivesse ovo, comiam, se não, era com umas gotas de manteiga do sertão. Sempre a mesma rotina. Um mês depois, por aí, o pastor e a mulher sugeriram que ela poderia morar com eles que lhe pagariam uma escola particular, " Pois a menina promete, é muito inteligente e esforçada". A mãe concordou, era a chance da moça ter uma vida melhor. Viviam na mesma rua, veria a filha sempre. Em casa dormia na rede, preferia agora o conforto do sofá.
Um dia, fazia muito calor e a mulher do pastor disse que fosse dormir no quarto com eles, a cama era grande, tinha ar refrigerado. Ela foi.
Não tem mais 15 anos, me diz que está com 24, fez faculdade e já está trabalhando. Ainda vive na casa do pastor. Dorme com o casal até hoje. Faz sexo com os dois, com ele por sentir obrigação, com a mulher por prazer. Gostaria de sair dessa relação, ela diz, mas não consegue porque está apaixonada pela mulher. Seguem a vida, como uma família tradicional.
Vão à Igreja juntos, os três, aos domingos, cada um com sua Bíblia Sagrada.
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