Sábado à tarde, vejo o marido da vizinha sentado no sofá da varanda, levo um susto. Ele não estaria morto, então? Sinto um misto de estranheza e alegria. Que bom que está vivo, mas ele está diferente. É, e não é ele, fuma, o vizinho, também fumava. Está com os pés sobre o sofá; o vizinho nunca sentaria assim. Está mais informal — de camiseta sem mangas — o vizinho nunca usava camiseta sem mangas, nem limpando o jardim. Conversa com a mulher, gesticula, ela parece triste, as mãos segurando a cabeça, como se não quisesse ouvir o que ele diz. Será que se separaram e ele veio conversar depois de alguns dias?
Olho atenta. É ou não é o vizinho? Parece mais jovem, mais descontraído, usa a varanda como seu território. Penso que a família poupava a casa, usava o menos possível. Este parece não se importar, coloca os pés sobre a mesinha de centro, parece estar em casa. Será o vizinho?
Observei por uns minutos atentamente; se tivesse um binóculo, olharia, mas não ia adiantar, pois nunca vi o vizinho de perto.
Gesticulando, ele se dirige para a saída da casa. Ela, ouvindo em silêncio, parece que a vizinha nunca fala, só ouve.
De repente, o cachorrinho da vizinha vem lá de dentro e avança no homem. Pronto, não era o vizinho, sem dúvida.
Na calçada, há um carro; ele se dirige para o carro ainda falando. Sai ao volante. Ela volta para a casa, agora já escura; anoiteceu.
Não era o vizinho, deve ser um irmão mais novo; o vizinho não dirigia.
O marido da vizinha morreu, que pena.
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