Há homens
que admiramos a ponto de amá-los. Eu amaria muitos- sou múltipla, Drummond já
escreveu sobre isso, disse que meu coração era imobiliário. Não foi um elogio,
mas eu entendi o despeito e ciúme do poeta- então encantado por mim.
Quando menina,
me apaixonei por um vizinho pianista. Eu passava horas na janela espreitando-o
e ouvindo-o tocar. Ele, alguns anos, não sabia e me tratava com
indiferença. Durou cinco anos este amor
platônico- dos meus dez aos quinze anos,
quando me encantei por Juarez Machado, então um jovem e promissor pintor,
premiado como o melhor escultor paranaense naquele ano.
Um dia, ele
atravessava a Praça Rui Barbosa, onde ficava meu colégio, o São José,- e eu corri em sua
direção dizendo que gostaria de ver suas pinturas. Foi com emoção que fomos,
algumas meninas colegas, visitá-lo numa pensão na rua 24 de Maio. Era uma casa
simples. Ele mostrou os estudos em carvão, num espaço próximo à escada. Naquele
dia me apaixonei pelos seus olhos azuis curiosos. Durante um tempo, eu e uma
amiga o visitamos na TV Iguaçu e o víamos pintar cenários enormes. Conversávamos
sobre livros, lembro- foi a época que devorei livros. Acabava uma leitura
começava outra.
Um dia, meu
pai chegou e disse que moraríamos em Cabo Frio. Isso no meio do ano de 1963.
Fiquei arrasada, mas era obediente, era preciso seguir a família.
Na
despedida, Juarez, mandou que eu escolhesse desenhos de presente. Peguei um desenho,
em carvão, de um rapaz tocando flauta.
Ju era noivo
de Lígia naquele tempo, não se interessava por mim, anos mais tarde, ele
separado, tivemos um encontro um tanto desastrado e ficamos amigos para sempre.
“Amigos”, porque ele mora em Paris e mal nos vemos e falamos.
Cabo Frio era
um pouco maior que uma vila- Búzios era ainda muito primitiva, sem escolas, com
muitos pescadores, era um paraíso. As
praias de Cabo Frio, eram belíssimas, o azul anil da primeira imagem que vi,
continua na minha retina. Subi a Rua 13 de Novembro- onde há, ainda, o Colégio
Estadual- e vi o mar.
Todos nos
conhecíamos na cidade pequena- eu era a moça que veio de fora, a filha do Dr.
Rui, ou do general. Tímida, saia pouco de casa. Aos poucos fiz amigos, muitos
de fora, que frequentavam a cidade.
Ali conheci
Jean Guillaume, um francês que escolheu viver ali depois de percorrer o mundo.
Era padrasto de Consuelo, uma amiga.
Continuo
depois minhas lembranças.
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