segunda-feira, janeiro 17, 2011

A dor que sai no jornal- com adendo




Ontem levei um tempinho para escolher a foto para colocar no post abaixo. Não queria expor as pessoas- preferi o cão. Para mim é metáfora da devastação e abandono.

Ali todos perderam. Em nossos corações a dor da perda do outro bate como a possibilidade de também perdermos. Meu coração está apertado desde quarta-feira, minha garganta travada- esqueço de comer, vontade só de tomar café.

Exagero? Pode ser que muitos não sintam assim, mas eu, sempre, sofro muito quando acontecem estas catástrofes, mortes anunciadas- que nos revelam o abandono da população e a passividade dos cidadãos. A Terra mostra que é poderosa, que somos vulneráveis, frágeis.

Somos um povo passivo, demais para o meu gosto- acho que deveríamos sair mais às ruas, para a frente das prefeituras, exigir mais. Somos muito tolerantes- o limite da nossa tolerância vai até a morte na nossa porta. Até o dia da porta arrombada, a casa destruída. Os cristãos acreditam que é vontade divina e fica por isso mesmo. Deus quis assim, dizem.

Esquecemos facilmente o drama no ano anterior, não planejamos nossas vidas, não projetamos nossas casas para serem mais seguras.

Muitos não têm grana para pagar engenheiros, projetistas, constroem em mutirões, chamam cunhados, irmãos e sobem mais um andar, mais um puxadinho para o filho que casou- ou para a neta que está grávida antes dos 18 anos.

Nossas cidades não são planejadas – exceto raras exceções.

Não vamos deixar que o que acontece no Rio de Janeiro, ou que aconteceu em Florianópolis, ano passado, ou São Paulo a cada chuva forte, seja esquecido- vamos transformar esta tragédia em algo renovador, que não permitam mais construções em morros, vales, lugares vulneráveis à chuvas fortes.

Vamos usar os novos meios de comunicação- como Twitter, Facebook, para nos organizarmos, fazermos campanhas.

Não se calem, não deixem que estas vítimas sejam esquecidas- poderão vir outras e mais outras...

O caso que mais me tocou, talvez por ter sido o primeiro que li, foi o da família da jovem figurinista- Daniela Connolly. A família perdeu 13 pessoas. O irmão desta jovem perdeu: pai, mãe, irmã, 2 filhos... sobreviveram ele, a mulher e um filho. Ele estava longe. Há um filho de 2 anos desaparecido.
Que horror! É muita dor para um coração.

Adendo: Este cão da foto, que saiu na mídia estar ao lado da cova da dona que foi soterrada,não é o verdadeiro Caramelo é outro- aqui está a história.

4 comentários:

Unknown disse...

Mais uma vez leio sobre o caso Huk, custo acreditar ante toda meiguice que passa em seu programa...Entre deletar arquivos para abrir espaço no PC,correr para salvar anotações no blog, um olhar sobre os últimos posts dos blogs que sigo...
Assim feito mix,vem o teu maravilhoso texto, objetivas mas tão delicadas palavras, obrigada
Linkando para http://bravotata.blogspot.com/

Eduardo C Braga disse...

O problema é que as pessoas só pensam em se mobilizarem quando catástrofes como essa acontecem. É óbvio que isso não funciona. Carregado de emoções e sem tradição de organização uma multidão pode se tornar até perigosa para ela mesma. A organização da sociedade civil demanda um trabalho cotidiano e constante. Menos horas diante da tv e mais tempo se dedicando a participar em sua comunidade de bairro, nas bases de seu partido político,no seu sincato, organizar grupos em associações, etc. É somente com essa estrutura, com o apoio de Instituições que as coisas podem ser mudadas. O resto é apenas "fanfaronice" passageira, que rapidamente se esvai juntamento com o impacto da emoção.
Obrigado.

Adriana disse...

Concordo totalmente, Laura.
As pessoas responsáveis por isso - governador, etc - deveriam renunciar aos seus cargos, sabiam que podia ser evitado e se omitiram (como sempre). Mas precisa de mobilização pra isso.
Há que se fazer um esforço pra que isso nunca mais repita, em nenhum janeiro, fevereiro, março...
Abração,
Adriana Godoy

Gloria disse...

Seu texto emocionado diz tudo. E me emocionou também. E a foto que você escolheu foi perfeita. Abandono e desamparo total.
E como disse o Moacir Duarte, da Coppe: Se continuar assim, sem prevenção, daqui a um ano estaremos chorando as mortes de onde ?