quarta-feira, março 03, 2010

"Não verei jamais..."



Já contei antes que em 2008 comprei uma agenda linda-
textos e imagens.
Começa com Brecht, depois Manuel de Barros, Hilda Hilst,
Cecília Meireles, Maiakovski... e por ai vai- cada dia um presente destes.
Ontem li:

“Mas se amo os seus pés
é só porque andaram
sobre a terra
sobre o vento
e sobre a água
até me encontrarem.”

Pablo Neruda, meu poeta preferido.

Tem gente de todas as terras- tem um texto de Patativa- lindo.

Bom, fiquei relendo o que escrevi ali- usei como caderno. Há textos meus muito tristes:

O meu amor morreu. Não é metáfora- virou cinzas. Pediu para que seu pó fosse jogado num pequeno jardim interno- no antigo apartamento onde viveu jovem. Morava li quando o conheci.
Invejo aquela terra úmida que o acolheu.

Dia 16 ele faria 63 anos- morreu em 2008, antes de eu me mudar e viajar- mas dividi com ele a alegria de estar realizando isto- não deu tempo de contar como foi. Em Paris me surpreendia em lágrimas buscando uma forma em mim de guardar o que dividiria com ele- sabia de cor o tom estimulante da voz dele- perdi isto ao vivo, mas ficou em mim. Ainda encontro.

Algo morreu em mim. É difícil inventar novo amor. Para quem endereçarei meus escritos agora?
O triste é que no final eu lhe dizia: Fiz um conto que tem a ver com você, uma hora mando. Não mandava, eram tristes e eu não queria entristecê-lo mais ainda- já bastava conviver com a morte diariamente- câncer. E não se queixava, e era amoroso, e estava sempre pronto a me ouvir.

Sempre me lembro desta música- sem angústia, apenas luto. Ele não foi meu primeiro amor, e pode ser que não seja o último, mas foi o "meu amor"- aquele que me fez sentir-se amada para sempre. Digo que ainda tenho um arsenal amoroso em mim. Morrerei pensando nisto.


Meu primeiro amor

H. Gimenez/Pinheirinho Jr/ Versão: José Fortuna


Saudade, palavra triste
Quando se perde um grande amor,
Na estrada longa da vida
Eu vou chorando a minha dor

Igual a uma borboleta
Vagando triste por sobre a flor
Teu nome sempre em meus lábios
Irei chamando por onde for

Você nem sequer se lembra
De ouvir a voz desse sofredor
Que implora por seus carinhos
Só um pouquinho do seu amor
Meu primeiro amor tão cedo acabou
Só a dor deixou neste peito meu
Meu primeiro amor foi com uma flor
Que desabrochou e logo morreu
Nesta solidão sem ter alegria
O que me alivia são meus tristes ais,
São prantos de dor que dos olhos caem
É porque bem sei quem eu tanto amei
Não verei jamais

Saudade palavra triste quando se perde um grande amor,
Na estrada longa da vida eu vou chorando a minha dor,
Igual uma borboleta vagando triste por sobre a flor,
Seu nome sempre em meus lábios
Irei chamando por onde for
Você nem sequer se lembra
De ouvir a voz desse sofredor
Que implora por teu carinho
Só um pouquinho do seu amor

Meu primeiro amor tão cedo acabou
Só a dor deixou neste peito meu
Meu primeiro amor foi com uma flor
Que desabrochou e logo morreu
Nesta solidão sem ter alegria
O que me alivia são meus tristes ais,
São prantos de dor que dos olhos caem
É porque bem sei quem eu tanto amei
Não verei jamais

4 comentários:

angela disse...

Ô amiga que coisa mais triste e linda.
Vou ali chorar um pouquinho.
beijos

Dai disse...

que coisa linda. = ~

Anônimo disse...

Lembrei de "O Lado fatal", que a Lya Luft escreveu com a tinta da dor quando Pellegrino morreu. É assim também, morte absoluta, sem metáfora. A falta que ama.

Luiz Vita disse...

Por que as coisas tristes parecem sempre as mais bonitas? carregamos uma melancolia eterna. Não que seja mau. O Chico uma vez fez uma música para destacar o outro lado:

"tem mais samba no porto que na vela, tem mais samba o perdão que a despedida, tem mais samba nas mãos do que nos olhos, tem mais samba no chão do que na Lua". E por aí vai.

Mas a dor está sempre lá, precisando tomar ar fresco de vez em quando para não embolorar.

Beijos

PS: e os sonhos?