sexta-feira, dezembro 18, 2009

A esfinge e Clarice Lispector- sem reler


Comprei hoje “Clarice,” de Benjamin Moser- leiam aqui.
Comecei a ler, é instigante, dá vontade de não parar.
Todos sabem que ela nasceu na Ucrânia e veio para cá pequenina. Ele conta que ela dizia que veio com dois meses, mas na verdade tinha pouco mais de um ano. Por que mentiria a idade por tão pouco?

Clarice precisava reafirmar o tempo todo que era brasileira apesar de ter nascido fora daqui- mas era tida como estrangeira sempre. A língua pressa a fazia caprichar nos RR o que dava a impressão de sotaque.
Clarice e o mistério- ele conta que diante da esfinge no Egito ela pensou que a Outra também não a decifrou. Não gostou das pirâmides- também sinto isto- é algo tão estranho, tão grande e fica junto da cidade- não fui lá, não, nem irei.

Eu me identifico com Clarice na tristeza, no olhar para as Macabéias, no sensação de impertenência- este desconforto de não se sentir em casa em lugar algum.
Nasci no RGS- numa cidade que desconheço- sai com dois anos, nunca voltei, nem tenho vontade de voltar- nada lá me pertence. Meus pais eram de Curitiba- minha mãe ainda vive. Meu avô materno, nasceu no Brasil, mas era espanhol- pais e irmãos nasceram na Península Ibérica. Meus avôs paternos eram portugueses- carrego a culpa e o misticismo deles- também a melancolia- lembram desta classificação? :)

O interessante é que eu senti discriminação por ser “estrangeira” - diferente- em Cabo Frio e aqui. São cidades marcadas pelos povos indígenas. Sente-se que somos intrusos e invasivos, os que vêm de fora.
Vivi no Rio de Janeiro muitos anos, de 1970 a 2002 e me sinto carioca.
Já disse que sou carioca por opção- digo ai ao lado. Por quê? Porque eu amo aquela cidade, porque foi o lugar que melhor me acolheu, porque lá estudei, amei, tive meus filhos- estranho como fora de lá sou invisível. Vocês aqui no virtual me vêem, aqui na terra, não sou vista- desisti de tentar fazer contatos- só desapontamentos.
Além do mais fiquei conhecida pelo conto erótico onde a personagem transa com um desconhecido. Ela não sou eu- no soy yo. :) Ela é uma espécie de Macabéia, solitária, que se entraga para sentir-se viva. Não sei fazer isto, se fizesse talvez fosse menos triste, né? :)) vão cair sobre mim, eu sei- como as pessoas são malidicentes, não é?

Clarice gostava de esconder a idade, se eu pudesse tiraria uns dez anos da minha certidão- me sinto com menos idade. É difícil aceitar a decrepitude da velhice. Oh! Vocês dirão, mas você é jovem. Hohoho jovem mentalmente pode ser virtude, pero lo cuerpo, mis amigos...!Que lastima! OK, estou super bem, mas é aquilo, depois de certa idade, você está bem, não mais linda- tão bom ouvir: Que linda! Ai que saudades dos meus amores- enamorados siempre.
Estoy bien hoy- estoy sola, mi madre salio com mi hermana e mi hijo. És bueno se quedar sola, quando se vive aturdida.

Vou rever “Buena Vista Social Club” na TV, depois volto.
Gosto da língua espanhola- talvez por mi abuelos.

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