domingo, setembro 13, 2009

Amores brutos: Rimbaud e Verlaine/ Arquivo 2005
























Paixões III Rimbaud e Verlaine

Continuo lendo o livro “Paixões” , é impressionante a vida de Rimbaud, já havia lido alguma coisa antes, mas desta vez prestei mais atenção.

Imaginem uma vila na França, Charleville, 1854, foi ai neste lugar bucólico que nasceu Rimbaud. Filho de camponeses, o pai abandonou a mulher e 4 filhos quando Rimbaud tinha seis anos. Nunca mais viu o pai.

A mãe tinha irmãos bastante desequilibrados e era estranha, não demonstrava afeto, sentia-se frustrada e vivia à beira da loucura. Foi neste ambiente que Rimbaud cresceu. Aos 13 anos, já se destacava na escola pela precocidade e inteligência e começou a se interessar por poesia. Era um aluno terrível e os professores premonizavam que não se daria bem no futuro, provocava medo e estranheza.

Vivia esta adolescência difícil quando os alemães invadiram a vila. Em Paris- rebelião da Comuna- havia caos exterior. Rimbaud foi invadido por este mundo em conflito. Fugiu três vezes e na terceira vez em 1871 foi para Paris sem um tostão, remexia lixos para achar alimentos, vestia-se como mendigo, andava com um cachimbo na boca virado ao contrário.

Acabou voltando para sua vila e leu muito nesta época, não saia da biblioteca. Criou a Teoria Literária do Vidente em que o poeta era o transmissor, um tradutor da divindade. Acreditou estar se fundindo com Deus ajudado pelo álcool e drogas, além de magia que era o que mais lia.

Neste ano, no verão, resolveu escrever para Verlaine que já era autor consagrado. Verlaine era filho único de um oficial do exército, muito feio e bissexual. Havia acabado de se casar aos 27 anos, por insistência da mãe, com uma jovem burguesinha de 17 anos. Quando leu os poemas de Rimbaud, ficou encantado e mandou dinheiro para que ele fosse ao seu encontro em Paris.

Rimbaud foi parar na casa dos sogros de Verlaine que acreditaram estar recebendo alguém especial, chegou sujo, cabeludo e malcheiroso. Impressionou mal a todos, menos Verlaine que se encantou com o jovem adrógino e de beleza diabólica -tinha olhos claros belíssimos e rosto perfeito.

A convivência com a família ficou difícil, ele foi embora e dias depois Verlaine o encontrou vagando pela cidade, alugou um quartinho para ele.

Aqui começa a história de amor e violência dos dois. Eram completamente loucos um pelo outro, viviam bêbedos e em brigas terríveis. Culminou com um tiro dado por Verlaine contra Rimbaud que ameaçava ir embora. Verlaine foi preso. Rimbaud foi expulso da Bélgica, onde viviam na ocasião. Verlaine havia deixado a mulher para trás sem avisar. Verlaine foi condenado a dois anos de trabalhos forçados- foi rejeitado pelos amigos poetas. Rimbaud escreveu e publicou “Uma temporada no inferno”, mas foi ignorado pelo meio literário. Em novembro de 1875 queimou seus manuscritos e nunca mais escreveu.

Voltaram a se ver uma vez mais na Alemanha, estavam sóbrios, mas se amaram e beberam tanto que acabaram numa briga brutal onde Rimbaud deixou Verlaine sem sentidos a beira do rio Neckar. Verlaine a partir daí passa a ter uma vida mais normal, mas acaba voltando a beber depois da morte da mãe e morre aos 52 anos, sifilítico e completamente só.

Rimbaud vira aventureiro, vai para a África, trabalha com trabalho pesado em cultivo de café, depois se transforma em traficante de armas. Bebia apenas água e comia pouco, era enigmático. Largou a literatura para tornar-se ele próprio personagem.

Em 1891, em plena África aparece um tumor no joelho diagnosticado como câncer, foi amputado, tinha dores terríveis, chorava o dia todo. Morreu aos 37 anos.

Os dois no final da vida disseram:
“Que se dane a poesia, que se dane a glória”.

Aqui há um trecho de um diário de Rimbaud no fim da vida.


A eternidade

Rimbaud

Tradução: Augusto de Campos

De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.

Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.

Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.

De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.

Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.

De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.




L'ETERNITÉ

Elle est retrouvée.
Quoi? – L'Eternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.

Âme sentinelle,
Murmurons l'aveu
De la nuit si nulle
Et du jour en feu.

Des humains suffrages,
Des communs élans
Là tu te dégages
Et voles selon.

Puisque de vous seules,
Braises de satin,
Le Devoir s'exhale
Sans qu'on dise: enfin.

Là pas d'espérance,
Nul orietur.
Science avec patience,
Le supplice est sûr.

Elle est retrouvée.
Quoi? – L'Eternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.

[Mai 1872]


Foto Rimbaud













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