sexta-feira, março 06, 2009

Sobre a "ditabranda"




Em memória a meu querido Chico, que sofreu na mão de torturadores.


Para que o passado seja conhecimento, como diz alguém no vídeo.

Só quem não viveu naqueles dias terríveis pode dizer que vivemos momentos de uma ditabranda. Ou viveu sem empatia com aqueles que viviam nos porões sendo torturados.

Uma lástima, um editor da Folha, jornal que tem uma repercussão enorme, dizer tamanho absurdo.
Há que se protestar, sim.

Vivíamos aterrorizados, com medo de que entrassem em nossas casas- receio de que algum livro nos denunciasse contra a ditadura, algum 'amigo' dedurasse um comentário contra os militares.

Amigos queridos foram torturados, a jovem representante do diretório de estudantes da PUC na época, colega nossa, sumiu, nunca mais soubemos.

Panfletos eram colocados nos banheiros.

Tínhamos medo de pegá-los, poderia ser isca.

Tenho certeza que minha vida seria diferente se eu não tivesse passado tanto tempo amedrontada. Seria mais feliz, com certeza.

Alguns conseguiram partir para a luta, eu não.

Alguns criaram, como nossos músicos, eu não.

Vivia tímida e assustada, desenhava perfis de figuras estranhas.

Fazia minha faculdade, saia com amigos, namorava, mas havia sempre o medo presente.

Choro de emoção vendo este vídeo. É arrepiante.

Que as novas gerações não passem por isso, é o que desejamos.

Que não haja retrocesso, que o Brasil seja cada dia mais livre.

Que o nosso povo seja mais consciente e lute pela liberdade, por uma vida mais justa, com menos desegualdade social, que é, no meu ponto de vista, também ser livre.


Mais aqui
sobre
Proposição de ato público contra a Folha de S.
Paulo


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5 comentários:

Dai disse...

"Temos que transformar o passado em conhecimento". Perfeito: ao peso da ditadura, a cultura brasileira contemporânea nunca deu o devido reconhecimento, a devida reverência, nem o Estado a devida reparação às vítimas e às suas famílias.

Aqui, nunca houve punição cabível aos torturados, que desfilam impunes pelas ruas, nem reparação às vítimas desse crime contra a humanidade. A ditadura é uma ferida aberta legada ao esquecimento, porque o país nunca se redimiu, de fato, deste crime contra a humanidade.

Há uma dívida enorme em que se construa conhecimento sobre a ditadura brasileira. O silêncio e a cortina que a encerram há muito deveriam ser rompidos. O Estado e os meios de comunicação - por sua função pública, também - deveriam incentivar a reconstituição de uma História oficial do que foi, de fato, a ditadura no Brasil. Na Argentina, por exemplo, o Estado subsidia teses e pesquisas nas grandes universidades para que se resgate o passado e a dignidade das vítimas. E o maior jornal do país, que nunca fez mesmo nada que prestasse pela cosntrução do pensamento democrático, assina embaixo de uma cretinice politiqueira na difusão do termo "ditabranda". É mais do que um deserviço ao conhecimento e à democracia. É jogar, sobres as muitas pás de areias já arremassadas, uma tonetalada de entulho sobre o sangue de nossas vítimas. Vergonha.

Dai disse...

sim, corrigindo: punição aos torturadores, logicamente.

Lia Noronha disse...

Laura: realmente comovente...toda essa insensibilidade!
Um grande fim d esemana pra vc e seus meninos minha querida amiga de sempre.

Anônimo disse...

Sofri muito e perdi amigos, tive que sumir da Universidade, onde dava aulas,gente gravando minhas aulas, pânico e perseguição. Tinha medo de falar e fui prejudicada, pedi demissão.
Não gosto de lembrar daqueles tempos, anos difíceis, vida parada.
Bj
Liz

Anônimo disse...

Terrível realidade que fazem questão de abrandar, como se não tivesse acontecido nada...triste isso.

lindo dia
beijos