terça-feira, novembro 18, 2008
Contos Livraria Cultura: Holofotes
Holofotes
Naquela tarde havia um movimento diferente no portão. De longe notou que eram da imprensa. Não sentiu medo, nem susto, apenas surpresa.
Cumprimentou um estranho que fumava na varanda e foi entrando na casa como uma intrusa. Ele estava no escritório, sob holofotes. Um repórter o entrevistava. Esgueirou-se entre fios, recostando-se na parede lateral. Mal o via dali. Ouviu quando disse que lançaria um livro em breve na Livraria Cultura, uma novela, um diretor pediu que escrevesse. Será filmada no próximo ano, disse orgulhoso.
Suas palavras a atingiram como lanças.
Por que não falou do livro? Logo na Cultura, que é seu espaço preferido, e não lhe conta!
"Ficarei em silêncio estes dias, não estranhe", dizia. Acostumada ao pouco que recebia, não o questionava.
Quanto dela estaria no livro? Sentiu um calafrio.
Não esperou a entrevista acabar. Saiu de fininho. Anoitecia, a casa estava escura, acendeu apenas o abajur da sala. Parou na porta, olhou a sala, pousou os olhos em cada objeto, gostava daquela sala, tudo ali tinha uma história. Pegou um ex-voto, guardou no bolso, ele saberia quem o levou. Sabia que não voltaria mais.
Despediu-se de Zampanô, o vira latas, que a acompanhou até o portão. Sentiria sua falta.
PS: Está no site da Livraria Cultura, se quiser votar, agradeço.
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