segunda-feira, outubro 27, 2008

"Não conhecer pela rama"...


Encontro amoroso. Posted by HelloO desenho é meu.

Um dia, em 83, recebi um envelope com este poema. Era um poema de Drummond, deixou na portaria do meu prédio, trouxe de presente em retribuição ao desenho que lhe dei, já contei aqui no blog. Fiquei ansiosa sem saber o que fazer, consultei um amigo:
- Ora, ligue para ele.
O poeta respondeu que era um presente. Eu havia pensado que fosse para eu ilustrá-lo, pois havia dito que eu poderia ilustrar seus poemas eróticos, disse que se eu quisesse ilustrar o poema ficaria feliz.
Eu vivia um momento muito especial, estava em fase de seleção para entrar na SPYD , sociedade de psicanálise, precisava estudar muito e, ainda por cima, estava apaixonadíssima, estava difícil me concentrar. À partir deste dia ficamos amigos, eu lhe telefonava para dizer que ainda não havia feito o desenho, que estava estudando. Contei da paixão- um dia eu conto o que ele me escreveu sobre isto, tenho uma cartinha dele falando do amor, mostro a carta aqui.
Eu gosto muito deste poema, e vocês ?



Poema Drummond Posted by Hello


O que se passa na cama

(O que se passa na cama

é segredo de quem ama.)



É segredo de quem ama

não conhecer pela rama

gozo que seja profundo,

elaborado na terra

e tão fora deste mundo

que o corpo, encontrando o corpo

e por ele navegando,

atinge a paz de outro horto,

noutro mundo: paz de morto,

nirvana, sono do pênis.



Ai, cama canção de cuna,

dorme, menina, nanana,

dorme onça suçuarana,

dorme cândida vagina,

dorme a última sirena

ou a penúltima… O pênis

dorme, puma, americana

fera exausta. Dorme, fulva

grinalda de tua vulva.

E silenciem os que amam,

entre lençol e cortina

ainda úmidos de sêmen,

estes segredos de cama.

Carlos Drummond de Andrade







Soube pela Luma, que é super bem relacionada aqui no virtual, que está rolando uma blogagem coletiva sobre poesia. Como, vocês sabem, eu gosto muito, coloco o poema do Drummond- OK, ele de novo, mas é porque dia 31 é dia do aniversário dele, está perto, assim já começo a homenageá-lo.
Escolhi o poema que ele me deu num papel A4 assinado, está aqui também. Tão querido ele era... Saudades.

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