terça-feira, fevereiro 26, 2008

Mini conto: Penso que não



Penso que não

Anoitecia, um vento frio vinha da janela da sala. Levantei, estiquei os braços no alto, fui à cozinha para ferver água para um chá.
Uma mulher na rua, sob minha janela, discutia com um jovem. Poderia ser filho. Ele gritava alterado, daqui só ouvia palavras soltas, frases curtas: "Culpa sua!”. "E dai? Por quê? Eu?..." Ela quase se atracava a ele tal ira. Vestia um terninho azul escuro, destes próprios para trabalho. Ele usava bermuda e sandálias. Me distraí ali tentando adivinhar o que eram um do outro.
Um cheiro forte de queimado me lembrou da chaleira em chamas. Joguei uma colcha sobre o fogão. Voltei para a sala, abri mais as cortinas, abri a janela da área de serviço.
Deitei no sofá e lembrei de você. Diria: "Mas como foi esquecer? Você precisa prestar mais atenção ao que faz! Diria irritado e ao mesmo tempo exaltado pelo afeto.
Lembrei de sua cabeça branca ao sair do táxi. Quantas vezes estive, ali naquela janela, esperando ansiosa o táxi encostar? Quantas vezes me desapontei ao dizer alto: "É ele." Mas não era. A cada minuto a sensação de que desmantelava. Então você chegava, eu me jogava na sua boca, exaurida, e amava como se fosse a última vez.
Onde o táxi estará estacionando hoje?
Um choro incontrolável me toma. E se o fogo tomasse conta de tudo? Você saberia? Penso que não.

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