Foto Cristo Ana Maria Anink Marink
Eu ouvia as meninas dizerem que estavam mudando de pele, mas nunca havia sentido isto- agora sim.
Esta viagem teve um peso muito grande em mim. Eu havia saído do Rio numa fase muito difícil, muito sofrida com tudo o que havia vivido nos últimos anos, meio massacrada, sabe como é, final de jogo, você sobrevive, renasce, pero... até voltar ao normal...
Eu acredito que resgatei o que me faltava nesta viagem. Eu vivi meus últimos anos no Rio correndo, com filhos pequenos, viajando semanalmente para Cabo Frio, sem poder ver amigos, sair, desta vez cheguei só e vi as pessoas- nem todas- houve desencontros.
Eu me senti muito querida. Pessoas como o cabeleireiro, que é um cara sério, ao me ver ficou numa alegria radiante, me abraçou muitas vezes (ele não é gay, viu?), algumas amigas choraram ao me encontrar, uma veio de Cabo Frio só para me ver, o 'amor da vida toda' foi de uma linda ternura, olhar amoroso, escuta atenciosa. Encontrei com minha ex analista duas vezes e foi tão bom ouví-la falar, resgatando coisas que eu nem lembrava. É uma senhora muito elegante, super discreta. Ficou muito feliz ao me ver, disse que nosso encontro (psicanalítico) foi bom para ela também, que foi um encontro que deu certo. Ela me virou do avesso pouco antes dos meus 40 anos. É... ali, naquele momento, também troquei de pele. Eu sofri muito lá, mas mudei muito também. Se não tivesse batido naquela porta certamente não teria meus filhotes agora. Ela me fez ver que eu não me sentia merecedora dos filhos. E deu tempo de tê-los. Viva!
Há pessoas naquela cidade que eu amo muito, além de amar a geografia do Rio. Minhas referências todas ainda estão lá. Conheço cada pedaço daquele bairro(Ipanema). caminhava observando o que mudou, o que permanece igual. Andar pela zona sul é um presente dos deuses. Estar num apartamento de onde eu via o Cristo enquanto lavava um copo, ou os Dois Irmãos e a Lagoa o tempo todo- bastava olhar a janela- é uma benção. Nos dois apartamentos onde fiquei eu via paisagens especiais.
São Paulo eu tive muitos encontros também, já contei antes.
Aproveitei mais Sampa para comprinhas, ir ao Bairro de Liberdade, caminhar pela Augusta, Jardins, ver exposições: fui ao MASP, havia uma expo sobre mitologia, a coleção Satamini e o acervo do museu. Conheci a livraria Cultura- grande demais para meu gosto, enorme! prefiro espaços pequenos e acolhedores. Fui ao cinema com meu amigo Thomas- já contei- e vi várias mini peças no projeto "Satyrianas"- também já contei antes. E na véspera de viajar conheci um belo grego, sentou ao meu lado no teatro. Pena que eu vim embora no dia seguinte, no mínimo ficaríamos amigos. Ele foi super gentil, eu estava só, na praça Roosevelt e, naturalmente, sentia receio em andar por ali. Ele foi um cavalheiro, me acompanhou no teatro, conversamos bastante- é formado em sociologia- depois me deixou num táxi- estava hospedada ali perto, mas como não conheço a cidade, nem sabia. São Paulo é muito chic, ali onde fiquei sente-se o poder da grana, estava atrás do Hotel Maksud, caminhei bastante nos Jardins, fui do Jardim Paulista até a rua Pe Manuel, não sei o que, a pé. Comprei lindas flores numa esquina para minha amiga Nilva, que ficou viúva e eu ainda não havia encontrado. Fazia onze anos que eu não ia à Sampa. Sei porque tenho uma dedicatória de Raduan daquela época, senão não saberia, sou péssima para datas.
No Rio vi o filme do Eduardo Coutinho na pré estréia, uma amiga querida é madrasta da moça que faz a montagem dos filmes do Coutinho- andei naquele tapete vermelho rodeada de artistas. Sabe que eu nem ligo estas coisas? acho a maior besteira... havia holofotes, fotógrafos.
E vi também um filme que achei uma droga com Richard Gere, esqueci o nome- algo com farsa. Conseguiram até deixar feio o rapaz- viu Luci?
Enfim, houve desapontamentos, eu passei por algumas situações que não esperava passar- cada vez sinto como as pessoas estão mais e mais mesquinhas e individualistas ("c'est la même chose"?), mas se você quiser viver em sociedade precisa aprender a engolir sapos, não é? Alguns não são digeríveis, então a gente rompe o laço.
Enfim, foram vinte dias que me trouxeram muita emoção e mudanças internas. Alguns laços foram melhor atados, outros rompidos. E assim sigo eu, espero estar mais inteira aqui em Natal, estou atendendo outro cliente, feliz por isso, estudando, fazendo laços aqui. O Rio e S Paulo ficarão agora para férias e rever os amigos queridos. Chorei bastante na volta, mas foi choro libertador, eu sei.
Torçam por mim, para que as coisas se desenrolem, ainda estão enroladas- me refiro à negócios agora.
E obrigada por estarem aqui. Eu tenho um prazer enorme em escrever contando para vocês. Narcisistaaaa... :) fazer o quê? mas juro que não sou mesquinha, isto sim é muito feio, né?
Nenhum comentário:
Postar um comentário