segunda-feira, novembro 08, 2010

Suicidados pela sociedade- Arquivo



Este texto eu fiz em abril de 2005- precisaria reler com mais atenção- revisar,mas estou sem vontade de.

Segunda vi no “Manhattan Connection”uma reportagem de Lucia Guimarães sobre a Diana Arbus, as fotos dela sempre me impressionaram muito- havia visto há anos na Galeria do Thomas e Myriam Cohn em Ipanema. A foto do catálogo da exposição esteve na minha estante anos, agora com as mudanças está guardada em algum lugar, é uma foto de 20/20cm de uma senhora idosa, vaidosa, adoro aquela foto.

Fui conferir sobre ela, havia pegado o bonde andando no programa, acontece sempre, e li que ela se matou aos 48 anos, no ano seguinte seria escolhida a primeira fotógrafo/a da América pela Bienal de Veneza. Ironias da vida...Nemo Nox escreve sobre a exposicão dela no blog, se quiserem saber mais...

As fotos de Arbus estão em exposição no Metropolitan Museu de NY. A Galeria do Thomas sempre nos trouxe estas preciosidades, sinto muita falta de artes plásticas, aqui é zero a esquerda. São fotos de anões, doentes mentais, gente estranha, e ela os colocava numa pose para as fotos intrigante, você sente um certo orgulho nos fotografados, uma alegria contida, a gente não esquece as fotos dela, eu vi há muitos anos e tenho gravadas na memória várias delas.

Lembro dos “hospícios”que conheci, quando trabalhei em hospitais psiquiátricos, é um mundo fascinante, tenho saudade, eu gosto de lidar com psicóticos, naturalmente psicóticos sob algum controle, não loucos desvairados, são pessoas muito interessantes, inteligentes, extremamente sensíveis a tudo e todos.

Suicidas sempre me intrigaram muito, estes dias Wilton no blog postou um poema de Florbela Espanca, outra suicida, quando vi a peça de teatro baseada na vida de Florbela, sofri demais, chorei sem parar, precisei ir lavar o rosto na saída, nunca havia acontecido antes. Zezé Polessa estava perfeita, eu sou muito critica, e ela me pegou. A vida de Florbela é triste, muitos amores e desamores- me identifico- além do desejo frustrado de Florbela ter filhos- abortava espontaneamente- sofreu muito a morte de um irmão querido três anos antes de se matar.

O amor, sempre o amor, leiam o começo de um dos seus mais conhecidos sonetos:

Eu quero amar, amar perdidamente !
Amar só por amar: Aqui ... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente ...
Amar ! Amar! E não amar ninguém !
e no final da quadra seguinte
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!


Leia mais:
Em Toledo:

As tuas mãos tacteiam-me a tremer...
Meu corpo de âmbar, harmonioso e moço,
É como um jasmineiro em alvoroço,
Ébrio de Sol, de aroma, de prazer!



Mais Florbela*:

À morte

Morte, minha Senhora Dona Morte,
Tão bom que deve ser o teu abraço!
Lânguido e doce como um doce laço
E como uma raiz, sereno e forte.

Não há mal que não sare ou não conforte
Tua mão que nos guia passo a passo,
Em ti, dentro de ti, no teu regaço
Não há triste destino nem má sorte.

Dona Morte dos dedos de veludo,
Fecha-me os olhos que já viram tudo!
Prende-me as asas que voaram tanto!

Vim da Moirama, sou filha de rei,
Má fada me encantou e aqui fiquei
À tua espera... quebra-me o encanto!


Pois é, aí fui deitar pensando em suicídio, peguei um livro de contos de Tchekhov, e fui reler “ Uma crise”, juro que foi por acaso, quem sabe inconscientemente lembrava do texto. Acredito que Tchekhov consegue mostrar bem o que leva um suicida ao gesto extremo de por fim à vida, afinal temos um instinto de vida fortíssimo...

Leiam, eu tirei só um trechinho:
“Procurando desviar a sua dor intima com alguma nova sensação ou com outra dor, não sabendo o que fazer, chorando e tremendo, Vassíliev desabotoou o sobretudo e o paletó e colocou o seu peito nu em contato com a neve úmida e o vento. Mas nem isso diminuiu a dor. Então ele se inclinou sobre o peitoril da ponte e olhou para baixo, para o negro e tumultuoso Iausa, e teve um desejo de se atirar para baixo, de cabeça, não por asco à vida, não para se suicidar, mas para se machucar ao menos e distrair uma dor com outra”.

Lembram de "Hiroshima, Mon Amour", de Alain Resnais?

Antonin Artaud tem um texto sobre Van Gogh que todos deveriam ler, chama-se. “Van Gogh: o suicidado pela sociedade”, leiam aqui.





















Este auto retrato de Van Gogh sem orelha é terrível, lembra as fotos da Arbus.
Vocês têm dúvidas quanto a Artaud ou Nietzsche, daquele sofrimento todo... não teriam sido suicidados pela sociedade?
Quem não leu, leia “Quando Nietzsche chorou” de I Yalon , da Ediouro. É um belo livro, está a venda nas livrarias novamente, deve ser nova edição.
Acredito que é por aí... Ou leiam o próprio Nietzsche- maravilhoso!


*1894: No princípio da madrugada de 08 de dezembro, nasce, em Vila Viçosa (Alentejo), Florbela d’Alma da Conceição Espanca, na casa de sua mãe Antônia da Conceição Lobo, à Rua do Angerino.
1930
Seu Diário se encerra em 02 de dezembro com uma única frase “e não haver gestos novos nem palavras novas!�? Na passagem de 07 para 08 de dezembro, Florbela d’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos e é enterrada, no mesmo dia 08, no Cemitério de Sedin.

Fotos Google, esta abaixo daqui- adorei o blog, vejam lá.

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