terça-feira, junho 13, 2006
O carvalho e o orvalho**.
Esta foto copiei da Lia do Cotidiano, tem sempre lindas fotos lá.
Outro dia eu coloquei este trecho de 'Terra dos homens'* e fiquei estes dias intrigada pensando nisto, não obsessivamente, mas lembrava. Ao colocar o post no ar, eu imediatamente pensei que eu vivo sofrendo lutos por amigos que se distanciam, ou eu me distancio- tanto faz- sempre foi assim, algumas vezes acredito que minha forma de viver, só, tenha a ver com isto, eu desde menina mudei muitas vezes, meu pai era militar, depois eu sai para estudar no Rio- a família ficou em Cabo Frio- depois vim para cá. Aqui tive dificuldades grandes em fazer um vínculo que fosse de amizade, tenho uma amiga querida- Pat- que fiz há uns anos aqui, mas nos vemos muito pouco, ela é cheia de compromissos, nos estranhamos um pouco, mas gosto muito dela. Depois encontrei a My, até contei aqui, ela mora no meu condomínio, nos vemos pouco, mas nos falamos bastante, agora ela vai embora, não se adaptou à vida em Natal, veio do Japão, realmente é muito diferente- viveu dez anos lá, trabalhava em grandes fábricas, aqui nem foi à luta para buscar trabalho tal o conflito que sentia, tenho certeza que teria um bom emprego se buscasse, mas quer ir embora. Pois é, mas uma separação.
O que ameniza isto é o encontro com a minha amiga italiana e pessoas que a cercam, a cunhada, algumas amigas, são muito agradáveis, me sinto muito bem com eles, tem alguns adolescentes também, Luc fez amizade com eles, é ótimo para ele,Dan ainda está na defensiva, mas também gosta dos rapazes- são de Brasília, a maior parte das pessoas com quem eu tenho afinidades aqui são de fora, há muita gente de fora aqui. Até a Pat, eu já contei aqui, nasceu aqui, mas viveu dos 4 aos 17 anos em Cuba, depois casou com um alemão e viveu na Ásia, onde nasceram os filhos, numa daquelas ilhas das Filipinas atingidas pelos tsunamis e na Europa (Suécia, Noruega, sei lá, ela adora a Europa).
Queria aplacar a dor da perda, ter uma trégua, felizmente minha amiga sobreviveu ao acidente horrível, e o meu amigo que teve 4 cânceres está bem, espero que viva muito ainda, ai ai, dói estar sempre perdendo gente que amamos, em 2004 perdi meu pai- velhinho, eu sei, 91 anos, descansou- e o meu amigo, que eu amei tanto, o Carlinhos, foi um choque, liguei para falar com ele, que vibrava com tudo que eu contava, me admirava muito, me dava força, e a irmã disse que havia morrido, nem em avisou... Um amigo como ele é como este carvalho do texto do Exupéry, foi horrível, agora fico com medo de ligar para amigos que não vejo há algum tempo, nem tenho notícias.
** Eu pensei em relva antes de orvalho, mas achei que poderiam pensar que é menor o valor da relva, gosto da palavra e da relva, que enfeita o campo, o orvalho dá frescor, embeleza, sei lá, quem sabe fica melhor :) não acham?
*"Nada, jamais, substituirá um companheiro perdido. Ninguém pode recriar velhos companheiros. Nada vale o tesouro de tantas recordações comuns, de tantas horas más vividas juntos, de tantas desavenças, de tantas reconciliações, de tantos impulsos afetivos. Não se reconstroem essas amizades. Seria inútil plantar um carvalho, na esperança de ter, em breve, o abrigo de suas folhas. Assim vai a vida. A princípio enriquecemos. Plantamos durante anos, mas os anos chegam em que o tempo destrói esse trabalho, arranca essas árvores. Um a um, os companheiros nos tiram suas sombras. E aos nossos lutos mistura-se então a mágoa secreta de envelhecer..."
(Antoine de Saint Exupéry)
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