sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Mini conto. O sonho.














O sonho.

"Estou vivo", ele diz.
Depois de meses sem notícias, o telefone sem atender no escritório, os emails que voltavam, ela temia o pior.

Aquela madrugada sonhou que estavam numa pequena sala, havia mais alguém que jogava cartas com ele, um filho, talvez.
Ela pergunta:
-Quer café?
-Não, não posso tomar nada.
Ela lembra no sonho que ele está doente.
Diz então:
-Se importa se eu fumar? Será que te fará mal?
-Não, minha querida, pode fumar.
Vai até ele e o beija ternamente na boca.

"Estou vivo" ressoa nela, mas a voz está diferente, mais frágil, não é mais ele quem está ali.
Desliga o telefone angustiada, querendo chorar, ao mesmo tempo ouve:
" Estou vivo", precisa gravar isto para sobreviver.
Entra no chuveiro, cai numa crise de choro, chora pelos dois, sabe que talvez não o veja nunca mais, chora por ele, pela dor dele.

Ela não fuma, já fumou, conhece o prazer do cigarro. Agora sabe que está livre para amar outro homem, ele autorizou.

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