sexta-feira, dezembro 09, 2005

O rio-miniconto



























O rio


Está sentada na varanda, todos dormem, os grilos a irritam, os mosquitos mordem. Sente frio. Se não fosse pelo irmão não teria vindo. Odeia mato, silêncio, prefere o barulho do motor dos ônibus, já acostumou com os ruídos dos vizinhos, sente-se menos só.
Quando acordarem animados para o banho de rio, estará exausta, não pregou o olho. Como esquecer aquela carta? "Não há nada mais para dizer". Ela intuía, quando pegou o envelope nas mãos, tremia. "Foi tudo um grande sonho, eu te quero muito, você deve ser compreensiva". Compreensiva... sentiu ódio ao ler isto, é bom, assim para de sonhar com aquelas mãos longas nas suas pernas, agora poderá dormir em paz. Vai matá-lo aos poucos, já fez isto outras vezes, espera o impossível, que eles a desejem acima de tudo.
Amanhã estará arrasada pela noite mal dormida, pela carta que não sai da sua cabeça, cantilena. Lerá uma, duas, três vezes, até saber de cor.
Após o almoço, quando todos estiverem cansados, cochilando pela casa, irá até o rio e decidirá o que fazer.

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