terça-feira, dezembro 20, 2005

Mini conto. O estrangeiro.
















Chovia muito, chuva fina e vento. Ao sair da Vila uma rajada quase quebra seu guarda chuva florido.
Domingo é dia de ler jornal, o pai a ensinou desde menina, mesmo velhinho, quando não mais entendia o que lia, andava com um jornal velho debaixo de braço, era preciso esconder o jornal novo, ele desfolhava, usava para se proteger do sol nas longas caminhadas. Pensava no pai, sentia um nó na garganta, quando atropelou com seu guarda chuva florido um homem que saia da Banca de Jornal.
-Scusa, scusa.
-Desculpe, desculpe, fui eu a culpada, não olhava o caminho, desculpe.
Pediu o jornal ansiosa e tentou ver se ainda via o homem na Praça. Havia sumido.
Passou a sonhar com ele, com seu sorriso largo, os belos dentes. Era grisalho, elegante, usava um suéter decote em V azul.
Um dia o viu pegando um táxi, devia morar por ali, novo morador.
Um dia não agüentou e perguntou ao jornaleiro pelo estrangeiro.
-Seu Brás, aquele homem estrangeiro que eu quase derrubei não vi mais...
-Ah o doutor? está viajando.
Não teve coragem de perguntar mais. Doutor... não o viu de branco, seria doutor de quê?
Sentiu certa alegria, passou a olhar as pessoas na rua, coisa que antes não fazia.
Nunca mais voltou a vê-lo, mas continua a sonhar. Agora com um doutor.

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