quinta-feira, dezembro 22, 2005
Joana Francesa , que delícia*.
*A música é que é uma delícia, não a Jeanne Moreau, viu? :)hihihi botei a mulher na banheira aí. Mas que delícia uma banheira! é meu sonho de consumo, tão pouco, não é? aqui falta espaço, na piscina fico a meditar como se estivesse numa banheira, é morninha a água à tarde, hora que gosto de ir, sem as crianças insuportáveis por perto. Me perdoem os que amam as crianças acima de qualquer coisa, mas junte 3 e coloque numa piscina, dai me diga se continua amando acima de tudo, eu detesto crianças pulando em piscinas, saio fora. Agora mesmo estou ouvindo os gritos, ficam todas histéricas, é uma alegria que não me contagia, sou doente da cabeça, mesmo.
Vi uma peça no Teatro Tereza Raquel, há anos, "A senhorita de Tacna" de Mario Vargas Llosa, se não me engano, é esta, onde a personagem vivida pela Tereza Raquel gritava: " que viva Herodes" eu não chego a tanto, viu? adoro as criancinhas fora da piscina, bem entendido.
Ontem circulando na Internet me deparei com Joana Francesa, eu adoro esta musiquinha, é deliciosa, gosto de cantar mesmo sem lembrar mais a letra direito. Eu vi o filme, gostei muito, quero ver de novo, será que existe? adoro Jeanne Moreau, já fiz post falando nela, o filme é de 73, faz tempo, foi um ano feliz, eu tinha um lindo namorado, lindo nos dois sentidos, mas a neurótica aqui, alguns anos depois terminou o namoro -namoramos quase 4 anos, foi o meu primeiro namorado de verdade- achava-o muito previsível, certinho, e é. Somos bons amigos até hoje, mas implico com ele, fala explicadinho, eu o atropelo.
Sabe que no ano passado ele me mandou pelo correio um Cd dizendo que as músicas faziam-no lembrar muito do nosso namoro? Bom, né? sinal que marcou, eu já sabia :) ele gostava muito de mim, e eu dele, mas eu era mais livre, mas moderna, ele muito mauricinho, ainda é. O Cd é de Francis Hime, músicas de amor, bons tempos de Ipanema hummmm
Ontem um poodle foi atropelado aqui na frente, vi o corpo do bichinho sangrando estirado, em seguida foi enterrado num terreno baldio aqui ao lado, tudo em segundos, minutos, é tudo tão rápido, somos tão vulneráveis, aproveitem a vida, não fiquem esperando "Godot" , é falar em Beckett e lembrar Gerald Thomas, como ele cita Beckett, impressionante!!!
O menino dono do cachorro gritou, chamou o pai, o pai veio, ele sumiu, não apareceu mais, imagino a dor do menino, tadinho, me entristeceu ver a cena.
Para alegrar ouçam na voz da diva Elis Regina:
Joana Francesa
Chico Buarque
Tu ris, tu mens trop
Tu pleures, tu meurs trop
Tu as le tropique
Dans le sang e sur la peau
Geme de prazer e de pavor
Já é madrugada
Accord'accord'accord'accord’a
Mata-me de rir
Fala-me de amor
Songes et mensonges
Sei de longe e sei de cor
Geme de loucura e de torpor
Já é madrugada
Accord'accord'accord'accord’a
Vem molhar meu colo
Vou te consolar
Vem, mulato mole
Dancer dans mes bras
Vem moleque me dizer
Onde é que está
Ton soleil, ta braise
Quem me enfeitiçou
O mar, marée, bateaux
Tu as le perfum
De la cachaça e de suor
Geme de preguiça e de calor
Já é madrugada
Accord'accord'accord'accord
Estes dias o blog está devagar, estou estranhando, mas sei que é o pré Natal, ficam todos com o espírito natalino em ebulição, menos eu.
Ai está um texto de Calligaris que fala disto, espírito natalino, leiam.
CONTARDO CALLIGARIS
Espírito de Natal
Um panetone médio custa R$ 6 na padaria da esquina (sem contar que meu padeiro, quando lhe expliquei as razões de minha compra, ofereceu um desconto).
Um pequeno brinquedo novo, na sua caixa, custa por volta de R$ 10 (menos, se você se aventurar na rua 25 de Março).
Segundo suas possibilidades, compre de cinco a dez panetones e de cinco a dez brinquedos (para meninas e meninos). Coloque tudo no carro e circule pelas ruas; se puder, leve seus filhos consigo. Quando encontrar crianças pedindo esmola ou vendendo chicletes, ofereça a cada uma um panetone e um brinquedo. Não vale jogar o pacote pela janela e sair correndo: abra o vidro inteiramente e troque umas palavras. Aproxime-se.
Claro, seu gesto não vai mudar o Brasil nem o mundo. Tampouco vai resolver os problemas das crianças que você encontrará. Será que servirá só para acalmar um pouco sua culpa social?
Nada disso. Seu gesto terá um efeito específico, relevante e comprovado -um efeito em você mesmo. Explico.
Em 2001, a revista "Science" (vol. 293, nº 5.537) publicou uma pesquisa de Joshua Greene, Jonathan Cohen e outros, "An fRMI Investigation of Emotional Engagement in Moral Judgment" (uma investigação por ressonância magnética funcional do engajamento emocional no juízo moral).
Foram propostos dilemas práticos a uma série de sujeitos cujo funcionamento cerebral estava sendo monitorado.
Seja o dilema seguinte: há um trem descontrolado que, se continuar no seu curso, matará inevitavelmente cinco pessoas. Numa cabine de controle do tráfico ferroviário, você pode acionar um interruptor que desviará o trem. Detalhe incômodo: em seu novo percurso, também inevitavelmente, o trem matará uma pessoa. A grande maioria dos sujeitos escolhe o mal menor e aciona o interruptor sem hesitar.
Agora, um dilema apenas diferente. Imagine o mesmo trem descontrolado, mas, desta vez, para evitar a catástrofe que mataria cinco passoas, você deve empurrar sobre os trilhos um ser humano, que você não conhece, mas que está de seu lado. O sacrifício do desconhecido salvará os cinco. A situação é parecida à anterior, mas a maioria dos sujeitos testados se recusa a agir. Os que decidem empurrar o vizinho chegam à sua decisão num tempo muito mais longo do que o tempo necessário aos sujeitos do primeiro teste para acionar o interruptor.
Greene e Cohen constatam que, no segundo teste, a atividade cerebral dos sujeitos envolve uma grande agitação emocional, ausente no caso do primeiro teste. Eles concluem que, quando o cenário comporta uma relação próxima e pessoal, a decisão deixa de ser completamente racional ou funcional.
O fato não é surpreendente. Entende-se que, na maioria dos casos, a proximidade do outro produza um mínimo de empatia afetiva que torna complicado, por exemplo, jogá-lo nas rodas de um trem.
Talvez seja por isso que, para decidir a morte da criança que come um sorvete ao seu lado, o terrorista se transforma em homem-bomba: sua própria morte resolve o conflito interno insolúvel entre ideologia e emoção (compaixão, empatia etc.).
Deduções. O general Medici, no começo de seu mandato, deveria ter passado uma noite, incógnito, numa reunião de estudantes de esquerda. Fidel Castro deveria ter cortado a barba para insinuar-se num bar gay de La Havana, e o presidente Bush deveria ter deixado crescer a barba para freqüentar uma mesquita de Bagdá. Stalin deveria ter vivido uma temporada entre os camponeses soviéticos; Nixon e Kissinger deveriam ter plantado arroz num vilarejo do Vietnã. Pode ser que não por isso eles tomassem decisões diferentes das que tomaram, mas, no mínimo, como mostram Greene e Cohen, eles teriam hesitado.
Entre os dilemas propostos por Greene e Cohen, aliás, há o caso de quem deve aprovar políticas que alvejam o bem da maioria (ou mesmo, a longo prazo, o de todos), mas que produzem mortes ou danos imediatos. A escolha é muito mais penosa para o governante que enxerga, nos governados, seu próximo. O bom governante é uma figura trágica, pois sempre chega o dia em que ele é levado a decidir, de uma maneira ou de outra, num conflito entre razão e empatia.
Ora, em nossa sociedade, há um exército de desfavorecidos que não decide quase nada. E as decisões dos favorecidos se parecem com o gesto de quem aciona o interruptor no dilema do trem de Greene e Cohen: o fosso que nos separa de quem não tem nada é tamanho que é fácil agir sem empecilhos emocionais. Por exemplo, é cômodo, moralmente, apropriar-se de dinheiro público, pois a figura de quem sofrerá pelo abuso é distante: um número.
A experiência de Greene e Cohen sugere que nossos atos são diferentes quando os outros não são números, mas semelhantes. Como produzir essa mudança?
Por exemplo, no futuro, uma reforma pedagógica poderia instituir o trabalho social concreto como matéria obrigatória para os alunos dos colégios privados. Mas, desde já, podemos inventar alguns truques para nos lembrar de que há semelhantes nas esquinas. Truques piegas, como minha proposta do panetone e dos brinquedos.
Feliz Natal a todos.
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