segunda-feira, novembro 14, 2005

"Todos os que amei não estão mais aqui"

Eu a vi no Fantástico(o show da vida :))está bonita com seus 67 anos, e sem plásticas, pelo menos foi o que disse. É bom ver mulheres envelhecendo assim, com dignidade, sem desespero para se manterem jovens, não é?
Vade retro! eu não quero sobreviver aos homens que amei, prefiro que eles chorem por mim :)

















Deu na Folha de São Paulo:

Convidada do 2º Amazonas Film Festival, antiga musa do cinema italiano relembra parcerias com Visconti e Herzog

"Todos os que amei não estão mais aqui", diz Cardinale

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A MANAUS

Pela segunda vez, a atriz italiana Claudia Cardinale, 67, vai embora da Amazônia pensando em voltar. "Acho que ainda venho outra vez", disse a um teatro Amazonas que a aplaudia de pé. A atriz foi homenageada em Manaus pelo 2º Amazonas Film Festival, que terminou na última quinta.
O longa "Fitzcarraldo", que ela filmou na região com Werner Herzog em 1982, foi exibido na mostra. Mas foi um curto e caseiro vídeo com trechos de outros filmes seus que mais a emocionou. "Eu me dei conta de que todas as pessoas que amei não estão mais aqui." Apesar disso, a atriz se comportou como a mais alegre das criaturas. Sempre sorrindo, conversou com todos que se aproximaram e não rejeitou convites para passear na selva nem para se esbaldar na pista de dança, ao lado de um grupo de folclore. Na última terça, ao atravessar o rio Negro de barco, Cardinale falou à Folha. Leia a entrevista.

Folha - A sra. parece ser uma pessoa muito feliz. Como conseguiu atingir a felicidade?
Claudia Cardinale - Nessa profissão, você tem de ser muito forte interiormente. Do contrário, é devorada; é um ambiente canibalesco. E você perde sua identidade, perde a cabeça e se considera uma diva. Para seguir essa profissão, é preciso ser muito forte e distinguir entre o seu trabalho e a sua vida. Eu sempre fiz essa distinção.

Folha - A sra. se referiu ao ator Klaus Kinski, com quem contracenou em "Fitzcarraldo", como "louco". Qual sua principal memória das filmagens na Amazônia?
Cardinale - O cinema é aventura, e "Fitzcarraldo" é o verdadeiro cinema da total aventura. Isso significa que foi de uma dificuldade extrema. Éramos poucos no set. Tivemos muitos problemas. O filme começou com [o ator] Jason Robards [1922-2000], mas ele era muito frágil e perdeu a cabeça. Interrompemos o filme e recomeçamos com Klaus Kinski. Ele era totalmente louco. Mas Herzog é um homem que adora as coisas impossíveis. Também gosto disso.

Folha - É o gosto da aventura que a trouxe de volta à Amazônia?
Cardinale - Quis voltar porque adoro a natureza e a Amazônia. Acho interessante que o mundo fale sobre essa região, e o festival é importante para isso. Por isso vim.

Folha - Qual é a principal mudança no cinema desde o início de sua carreira até hoje?
Cardinale - Antes era a arte, agora é business. Para mim isso é muito difícil porque fui uma pessoa privilegiada -filmei com os maiores cineastas do mundo. Agora é difícil que eu aceite fazer um filme porque eu sinto: eu sou um animal [cinematográfico].

Folha - Não há mais cineastas com quem a sra. queira filmar?
Cardinale - Não sei. Eu nunca telefonei para nenhum cineasta. Sempre fui escolhida por eles.

Folha - Entre os grandes mestres com quem a sra. trabalhou, qual é o seu favorito?
Cardinale - Existem muitos, mas o ponto alto da minha vida foi o encontro com [Luchino] Visconti [1906-1976]. Era um mestre, foi mágico, o encontro fatal, que me ensinou muita coisa.

Folha - Que sensação a sra. teve ao ver o vídeo com trechos de sua carreira?
Cardinale - Foi muito emocionante porque eu me dei conta de que todas as pessoas que amei não estão mais aqui. É triste. Elas partiram. É duro. Por exemplo, em "Era uma Vez no Oeste" todos partiram -cineasta, ator, não há mais ninguém. Tenho saudades de muitos diretores, como [Federico] Fellini [1920-93], Visconti, [Mauro] Bolognini [1922-2001], e também de atores com quem trabalhei, como Burt Lancaster [1913-94], John Wayne [1907-79] e Rita Hayworth [1918-87].

Folha - A sra. conhece algo da produção recente de filmes da América do Sul?
Cardinale - Muito pouco, porque os filmes não viajam o suficiente pelo mundo. Mesmo em Paris, hoje, não se vê quase nada do cinema italiano, que, no entanto, está ali do lado. Imagine como é com o cinema da América do Sul, ainda mais difícil. Acho que é preciso voltar a fazer como era antes, quando os filmes estreavam no mundo todo porque eram co-produções entre muitos países.

Folha - A uma diva é indispensável perguntar: qual é seu segredo de beleza?
Cardinale - Nunca fiz lifting. Tenho uma vida saudável. Como pouco e faço ginástica. Ou então caminho muito. E amo a vida.
A jornalista Silvana Arantes viajou a convite do 2º Amazonas Film Festival

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