quarta-feira, setembro 28, 2005

O pássaro de Oscar.



















Éramos duas garotas, não sabíamos distinguir entre um sábia e um bem- te- vi e Oscar deixou um pássaro negro para que minha irmã tomasse conta recomendando que era um bicho raro.
Estávamos, os três, na casa de Carlinhos hospedados, assim que chegamos ao Rio, desconhecíamos a cidade, tudo era novo para as duas jovens, que Oscar devia considerar seres inferiores vindos, imagine, de Cabo Frio, uma aldeia, na época. Ficamos sós as duas, todos viajaram, meu amigo disse que não queria confusão com Doutor Rui- era assim que chamava meu pai- e longe não corria perigo, eu era completamente apaixonada por ele, um gaúcho charmoso, o homem mais interessante que conheci.
Oscar foi viajar para Ouro Preto ou Bahia, não lembro mais, com artistas, vivia cercado de gente famosa, havia sido casado com uma atriz muito famosa, filha de uma escritora mais famosa ainda. Esta gente se reunia lá em “petit comités’, que era como chamava as reuniões. Era época de perseguição política, mas eram reuniões sociais, um dos convidados estava no grupo que seqüestrou o Embaixador americano.
Minha irmã incumbida de alimentar o pássaro de nome Bartók- eu desconfiava que Bartók era alguém famoso pela pompa de Oscar ao pronunciar o nome do bicho- aliás, tudo era dito com pompa, ele era o tal, arrogante, eu não conseguia conversar dez minutos com ele.
Pois bem, Bartók comia alpiste, quando acabou a sementinha minha irmã passou a dar jiló e outras frutas para o bichinho que um dia amanheceu morto. As duas tolas não sabiam andar na cidade e não foram atrás de uma loja de pássaros, aposto como tem logo ali, no Humaitá, perto de onde estávamos na Lagoa.
Quando Oscar voltou todo prosa, contando que transou com a filha de um músico famoso dentro de uma Igreja, encontrou no lugar do belo pássaro negro um periquito verde e amarelo que era tudo que ele não queria na ocasião. Imaginem a reação dele.



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