sexta-feira, setembro 09, 2005

Mini conto: O médico de Esperanza II




















Esperanza chegou cedo no consultório do médico e encontrou a sala quase cheia, era por ordem de chegada, viu que passaria horas ali, fazer o que? Precisava falar com ele.
Sentou num canto e ficou observando as pessoas, havia um casal de velhos, ele tão caidinho, recostou-se no sofá, deslizando, ela faceira com sandália Chanel de saltinho, era estranho ver como ela ainda sentia vida e ele não. Uma mulher idosa com um lencinho na cabeça expunha a quimioterapia, outro casal falava alto, a mulher sentia-se em casa, descalçou as sandálias dos pés feios e mal cuidados. Outra mulher muito estranha e feia agarrava os exames contra o corpo, assim Esperanza ficou horas, olhando e imaginando as histórias de cada um. Já se cansava de olhar o painel de chamada, os números andavam lentos, quando uma mulher gordinha que a olhava com curiosidade disse:
-A Sra. vai se consultar?
-Não só mostrar exames.Eu também, não tenho nada, mas a velha é cheia de problemas, vim trazer os exames dela.
-Quem é a velha? Sua mãe?
-Não, uma mulher que eu cuido, já estou há seis anos com ela, não agüento mais. Hoje dei uns gritos com ela.
-Ela está doente?
-É cheia de problemas, já tem 84 anos.
-Ela tem alguma doença séria?
-Tem tudo alto, açúcar, colesterol, estas coisas,Ah, e tem Parkinson, tem dias que está bem, anda sozinha, tem dias que não, às vezes treme tanto que tenho que dar comida na boca.
-Doença horrorosa, Deus nos livre. O pior é que qualquer uma de nós pode ter.
-Eu não tenho nada, agora estou grávida, estou chateada, não queria.
-Se não queria como aconteceu?
-Esqueci um dia de tomar remédio, na queria mais filhos tenho uma de dez anos, descobri quando estava com 4 meses.
-Não sentia nada?
-Nadinha, nenhum enjôo, nada.
-Sorte sua. Filho é bom, vai te renovar, eu tive com 40 e 42 anos e foi ótimo.
-Não tenho paciência, ter que ficar acordada de noite vai ser um saco.
-Ah, isto é difícil mesmo, mas passa rápido.
-Vou colocar na creche cedo, a outra foi bem pequenina, por que este não iria? não agüento ficar em casa. Vou ter que deixar a velha, ela me paga bem, me dá tudo que preciso, todo mês me gratifica, mas eu não agüento mais ela, é tudo eu, me chama para tudo, nem as filhas ela quer, é só eu.
-Sinal que gosta de você.
-Mas eu cansei, vou sair sem botar ninguém no lugar, as filhas vão ter que se virar, é um povo muito complicado, se eu boto alguém e não dá certo vão cair em cima de mim.
-Esta perto da sua vez.
-Finalmente, estou cansada.
-Tchau, boa sorte, que tenha um bom parto.

Esta historinha é verídica, fiquei com pena da velha, a moça era fria, estranha, imagine como não trata a velhinha, Deus meu, não quero chegar a ficar muito velha, vocês são testemunhas agora, vivo dizendo isto.

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