quinta-feira, junho 09, 2005

A negação da morte do filho


M�e Posted by Hello

Chove, pára de chover, faz sol, chove, pára de chover, faz sol, chove...amanheceu assim hoje, quando o sol sai eu vou para minha mini varanda e fico que nem lagartixa ao sol.
Estou desde ontem com uma história na cabeça, gostaria de fazer um conto, ainda não sei se consigo, contei para Betânia ontem.
Um dia peguei um taxi no Rio, o motorista era um senhor mais velho que eu, mais de 60 anos, cabelos grisalhos, e como sempre faço com os motoristas puxei papo:
- “o Sr. é nordestino?”
- “sou do interior da Paraiba”, etc e tal
Ele então me contou que a mãe era boa parideira e havia tido 17 filhos, mas só nove sobreviveram, moravam no meio do mato, (seria caatinga, semi- árido?), não havia médico, nem recurso nenhum em termos de saúde alí.
Como era o mais velho assistiu a agonia e morte dos irmãos. O destino escolhia os que deveriam vingar quando adoeciam e não havia mais o que fazer, a mãe colocava o bebê num canto da mesa de sala e esperava que morressem.
Betânia me disse que depois de mortos são colocados em redes rebolados* no mato.
Esta história terrível eu ouvi, não estou inventando, há uns sete anos no meio do trânsito de Copacabana ou Ipanema.
Aí estes dias meu filho Dan estava vendo o canal National Geographic, e eu vi uma macaca mãe cuidando de um filhote, limpando, catando piolhos, carregando aquele corpo mole, o filhote estava morto, já se desfazia e ela insistindo em não aceitar, tratando-o como se estivesse vivo. Eu e meu filho nos comovemos.
Aí eu fico a pensar naquela mãe nordestina que deixava os filhos morrendo à mingua- talvez o nordestino, agora homem maduro,não lembre da dor da mãe, ele me disse que não havia desespero e sim silêncio, resignação, será? Desesperança, negação, talvez.
*rebolar no mato aqui significa fogar fora.

Bom dia!

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